quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Um Brasil pós-golpe de 2016 nascerá


Um Brasil pós-golpe de 2016 nascerá

Vai levar algum tempo até que as forças populares e de esquerda reconstruam uma maioria capaz de realizar grandes mudanças. A chegada do PT ao poder, ao governo federal, representou um avanço, embora tenha ocorrido em coalizão com setores da direita e fisiológicos. Isolado, dificilmente o PT conquistaria o governo federal. E se o fizesse, não governaria, pois nunca teve maioria parlamentar. Daí as alianças com setores conservadores, fisiológicos e de direita.

Até um certo momento, enquanto foi possível imprimir um ritmo de crescimento econômico, combinado com a geração de empregos, aumentos salariais e distribuição de renda, o PT conseguiu manter o leque de alianças que garantiu a chamada governabilidade durante 12 anos, pelo menos. Nesse período, o PT cometeu erros e acertos.

Entre os erros: não ter investido na destruição do monopólio da mídia, com a consequente democratização dos meios de comunicação; ter confiado num republicanismo ideológico, permitindo que os aparatos estatais, como o STF, o MP e a PF fossem ocupados por pessoas da direita ou sem compromissos com as lutas sociais; ter mantido intacta a política de pagamento dos juros da dívida pública, sem questioná-la, sem submetê-la a uma auditoria autônoma. E por último, o PT pecou por não ter realizado o confronto político com a direita quando tinha força social e política para fazê-lo.

Mas, o PT também realizou vários programas e políticas públicas em benefício de milhões de cidadãos. Entre os mais importantes: o Bolsa Família, que retirou da miséria e da fome mais de 40 milhões de pessoas; o Minha casa minha vida, o Mais Médicos, o Luz para todos, o Prouni, o Pronatec, a política de cotas, além de inúmeras obras do PAC, que geraram emprego e renda para milhares de pessoas. O PT recuperou a Petrobras, que estava praticamente entregue aos gringos no final do governo FHC e investiu na exploração do pré-sal, que agora, quando atinge recordes de produção, será entregue aos gringos pela quadrilha que assumiu o governo com o golpe. O PT realizou também uma política de reajuste salarial acima da inflação para o salário mínimo.

Infelizmente, a propaganda de uma mídia golpista e inimiga do povo brasileiro, combinada com a incompetência do próprio PT em se comunicar com a população acabaram por criar a falsa ideia de que o PT assumiu o governo para roubar, apenas. Nada mais falso e simplista. É fato que vários dirigentes do PT se encantaram com os palácios e com as benesses do poder e se envolveram com práticas de corrupção. Mas, nem de longe isso torna o PT o partido mais corrupto do Brasil. Perto do PMDB, do PSDB e do DEM, por exemplo, o PT é mero aprendiz de batedor de carteira. As verdadeiras quadrilhas que roubam o dinheiro público há décadas continuam impunes, dominando seus feudos nos estados e em dezenas de cidades Brasil afora, sem qualquer risco de serem investigadas pelos Moros da vida. Qualquer cidadão menos idiotizado saberá identificar quem são esses personagens. Aqui em Minas então nem precisa dizer. Em São Paulo, idem. No Rio, os que menos roubam são os chamados traficantes dos morros - claro que não estou incluindo aí a maioria da população, que é vítima dos diversos bandos.

Infelizmente, nesse período de 12 anos, antes do segundo mandato de Dilma, que foi infeliz nos seus atos - diferentemente do primeiro mandato, quando ela mais acertou - os movimentos sociais e as esquerdas perderam terreno para a direita fascista e para os lobotomizados pela mídia. O resultado disso é essa pobreza intelectual e mental que assistimos hoje no Brasil. Um golpe de estado, que cassa os votos de 54,5 milhões de brasileiros e instala no poder uma quadrilha é aceito como algo normal, como se não fosse um problema de todos, mas apenas uma luta entre algumas pessoas ou grupos. Nada mais falso.

Todos nós pagaremos um alto preço quando começarem a executar o plano do golpe que é cortar direitos e conquistas históricas dos trabalhadores, dos aposentados, dos educadores, da saúde pública, enfim, de todos os cidadãos. Isso incluindo as conquistas democráticas, que já foram abolidas pelo esquema Lava-jato-Globo-STF-MP-PF, um verdadeiro estado paralelo que substituiu as conquistas inscritas na constituição federal pela vontade de juízes e procuradores, apoiados pela mídia, que forma grupos de apoio entre os lobotomizados.

Doravante, não precisaremos mais de eleições, nem de instituições, sequer. O que a mídia em parceria com algum juiz transformado em herói ocasional decidirem é o que valerá. Até que uma nova maioria de lutadores sociais seja construída, ou reconstruída. Até lá, o que vai prevalecer são essas manifestações de gente sem caráter, falso moralistas que comungam com todo tipo de canalhice durante o dia para pregar a ética durante a noite. Basta olhar para a maioria dos pilantras que estão votando em favor do golpe do impeachment para ver o nível de cinismo a que chegamos.

Mas, como a história já nos mostrou, essa fase infeliz de golpismo combinado com fascismo e indigência mental é passageira. Logo surgirão grandes movimentos sociais capazes de impor derrotas aos inimigos do povo brasileiro e recuperar os direitos e conquistas roubados, além de avançar em novas conquistas. Embora vivendo esse momento triste da vida brasileira, sou dos que acreditam num amanhã diferente. Da mesma forma que muitos que acreditaram e lutaram por um Brasil pós-golpe de 1964, também acredito num Brasil pós-golpe de 2016.

Um Brasil que já desponta com as centenas de manifestações das mulheres, do pessoal da cultura, da comunidade LGBT, das frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, dos estudantes secundaristas, do Levante Popular e da juventude das periferias do Brasil. É um recomeço, que será fortalecido quando a maioria da população perceber as consequências do golpe. Nenhum povo é submetido a grandes perdas sem resistência, sem luta. A menos que queira desaparecer enquanto povo, enquanto nação, com suas identidades e culturas. De uma certa forma, é isso o que a mídia vem tentando fazer, com algum sucesso, durante os últimos anos: destruir as identidades culturais capazes de unir o nosso povo em torno de interesses e lutas comuns. No lugar, construíram um ódio babaca ao PT, a Lula e a Dilma, como se isso fosse solução para algum problema.

Como é fácil enganar uma parte grande da população, não? Dividi-la para impedir que a população se una e construa sonhos comuns. Enquanto isso não acontece, os de cima continuarão roubando e se apropriando das riquezas do país e do nosso povo. Com os aplausos de muitos.


Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória!

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MST

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