terça-feira, 26 de março de 2013

Receita para se gastar bem o prêmio de (im) produtividade


Receita para se gastar bem o prêmio de (im) produtividade

Finalmente, após longos e demorados meses e anos, o governo do país de Minas Gerais resolve publicar o contracheque relativo ao chamado prêmio de produtividade, referente ao ano de 2011. Isso em 2013, detalhe secundário, obviamente. Não se sabe porque cargas d'água, alguns chamam a tal volume remuneratório de 14º salário. Ainda hei de entender, na minha reduzida capacidade de perceber as coisas, a relação direta ou indireta entre uma coisa e outra, já que tão distante se apresenta. Mas, tudo bem, o prêmio saiu, ou pelo menos o contracheque relativo ao mesmo saiu. Agora é hora de fazer as contas e saber como gastá-lo. Afinal, não é todo dia, nem todo mês, nem todo ano, que se recebe um volume assim de dinheiro.

Antes que o valor do prêmio fosse divulgado, muita gente boa, porém ingênua, imaginava que o governo do país Minas iria se redimir com os professores. Tudo aquilo que fora confiscado nos últimos longos 11 anos da faraônica (de faraó) era de gestão de choque contra os educadores, seria agora devolvido. Se tal expectativa se realizasse, os professores teriam que alugar frotas de caminhões para carregar os volumes de dinheiro que deixaram de rolar morro abaixo rumo aos vazios bolsos dos sedentos educadores. Embalado em tal promessa, cheguei a checar o custo do frete com várias transportadoras. Além do serviço privado de segurança, já que a política de saidinha de bancos de certos grupos, compete com outras políticas de semelhante teor, desta feita com roupagem oficial, com direito a terno e gravata.

Mas o prêmio não foi criado para causar redenção de possíveis erros do passado. Foi criado para literalmente premiar os servidores que primam pela melhoria na sua produtividade. É a teoria. E se levada a sério, tal teoria, em considerando que o prêmio tem saído com dois anos de atraso, e quase sempre com valores minguados, o estímulo será o inverso do pretendido. É como se trouxesse, gravado na lapela, a seguinte mensagem, principalmente dirigida aos educadores: "Não produzam, não se aprimorem. Não vale a pena".

Bom, do mesmo jeito que tem gente ingênua, que acha que o governo do país-Minas virá com alguma surpresa agradável, tem também quem tenha pessimismo ao extremo. Para estes, o prêmio é uma esmola, apenas mais uma forma de iludir os pobres dos servidores do país de Minas, que sobrevivem com salários vergonhosos.

Da minha parte, não quero ser tão radical. Quando abri o contracheque, após longos meses e anos de espera, deparei-me com tal volume de recursos que me fez parar e pensar: como gastar tal dinheiro? Fiquei muitas horas pensando no caso. Tudo bem que meu raciocínio anda mais lento depois que me tornei professor-de-Minas. Talvez isso até justifique o valor do prêmio. Eu piorei enquanto profissional, reconheço, e seria, portanto, um contrassenso que meu prêmio melhorasse. Ou seja, bem entendido: eu estou mal enquanto profissional da Educação-de-Minas, mas o prêmio está ainda pior.

Então me lembrei que o país de Minas conseguira, recentemente, um grande feito: em breve, haverá voos diretos entre Confins e Buenos Aires. Eu que já não gosto muito de viajar de avião em função das escalas - só por isso, viu gente, e nada tem a ver com o meu salário de professor-de-Minas -, agora não tenho mais desculpa. O voo entre Minas e Argentina será direto. Pesquisei rapidamente acerca dos custos promocionais de uma passagem ida e volta para Buenos Aires, onde, dizem, o almoço está mais barato do que em Minas. Logo descobri que o dinheiro do prêmio dá para pagar uma passagem de ida. Mas só de ida, classe econômica, provavelmente sem direito sequer a um cafezinho a bordo. Mas tudo bem. Meu primeiro impulso foi o de pegar o telefone e fazer logo uma reserva: uma passagem de ida para Buenos Aires, e só. Lá, pelo menos, os argentinos vão para as ruas protestar, tem as Madres de Plaza de Mayo, tem o tango e a melhor carne bovina do mundo. Até o Papa agora é da Argentina! Mas aí eu pensei: bom, dá para ir, e aí?

Foi então que me lembrei de outra proeza do país de Minas. Em 2014 haverá, em parte, a Copa do Mundo bem aqui, no país onde moro - Minas. E fui informado que o meu prêmio pode até bancar ingressos populares em jogos da primeira fase. Ficaria de fora nas decisões. Mas aí também seria querer demais, né pessoal, em se tratando de um professor-de-Minas, com o salário sem piso que é pago aos professores-de-Minas -e do-Brasil, claro.

Neste dilema terrível, provocado pela súbita chegada do prêmio, estou (continuo) a perguntar: como gastá-lo? Já vimos que não dá para bancar uma viagem de ida e volta para Buenos Aires. Dá só para ir, e ficar hospedado nas praças e ruas da capital argentina. E torcendo para que, por lá, eles tratem melhor dos moradores de rua do que no país de Minas. Já vimos também que o prêmio não dá para pagar integralmente a um (unzinho, somente) ingresso na fase decisória dos jogos da copa. Teria que pagar a primeira parcela, apenas, e seria barrado na porta do Novo Velho Mineirão. Por isso, persiste o dilema, do que fazer com o dinheiro do prêmio.

Uma outra possibilidade, extrema, seria pegar o pequeno montante de papel-moeda e queimar tudo na porta da Cidade Administrativa. Mas aí eu poderia ser mal interpretado, considerado esnobe, e até mesmo ser preso. Afinal, para queimar dinheiro em praça pública (pública? Me poupem), o sujeito só pode estar mesmo com problema.

Então, decidi. Quer saber? Eu vou é dormir, que esse negócio de queimar a cabeça para gastar dinheiro pouco, é bobagem. Não paga a pena. Quem depender exclusivamente da condição e profissão de professor-de-Minas, acumulado com os prêmios generosamente cedidos pelo governo deste país, já sabe: sairás de Minas? Jamais; e nem tampouco frequentarás o Mineirão na fase final da Copa. Ou seja: pode mal mal comer, beber e dormir. Quer mais? Amém.

Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória!

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domingo, 17 de março de 2013

A dengue ataca... E o prêmio, nem o Papa sabe quanto será


A dengue ataca... E o prêmio, nem o Papa sabe quanto será

Já virou notícia em todos os jornais: a dengue ataca sem dó, de forma crescente. Até a minha querida maẽzinha foi atingida, e graças a Deus se recupera, ainda que lentamente, após seis dias de cama por causa da dengue. Minas Gerais, país, está entre os mais atingidos. Verdadeira epidemia. Vespá, minha terra natal e de morada, não fica para trás. Disse-me, um aluno meu, que trabalha na UPA local, que num só plantão a médica atendeu a 70 casos. E os governos descobriram uma forma muito cômoda de tirarem o peso da culpa, deles, e transferir tudo para o cidadão comum. Eles dizem que mais de 80% dos focos da dengue estão nas residências. Ah, tá bom! Então quer dizer que isso agora exime os governos de culpa pelo surto da doença?

Somos nós, os cidadãos comuns, os culpados por tudo. Não são os governos que investem pouco e mal na Saúde e na Educação que são os responsáveis. Eles querem que os moradores subam no telhado, limpem sua caixa d'água, a calha, pulem os muros e invadam os quintais próximos e verifiquem se há alguma lata ou pneu com criatório de dengue. Em Vespá, há um tempão que não passam o fumacê, devem estar esperando pela chegada do inverno. Tudo bem que a população tem que contribuir, fazer a sua parte, mas os governos têm que fazer mais do que propaganda paga nos jornais. Na casa da minha querida mãezinha, por exemplo, fui pessoalmente verificar se há algum foco no pequeno terreiro. Não vi. Recentemente ela mandou limpar a caixa d'água. Mas ela não pode responder pelos vizinhos - e estes também não podem responder pelos deles. Isso tem que ser coisa de governo, com uma fiscalização preventiva mais intensa e efetiva. Por acaso os governos têm detectado onde estão os focos? E quais medidas foram tomadas para atacar estes focos?

Enfim, no país das Copas e das Confederações, a dengue se alastra. Bom seria que os surtos anuais de dengue acontecessem nos períodos das Copas e Confederações, porque assim os governos davam um jeito. Mas como é um problema "doméstico", e que os governos culpam a população local, a dengue e outras doenças similares continuarão cada vez mais presentes. No Brasil e no país de Minas.

E tem mais um detalhe: se o morador da casa for um professor-de-Minas, como é que ele vai arranjar tempo e dinheiro para subir ao telhado, limpar a calha, a caixa d'água, sendo necessário trocá-la, em alguns casos? Dispondo apenas de um sexto do tempo da jornada de trabalho para atividades em casa, extraclasse, e recebendo salário de professor-de-Minas, é impossível resolver este dilema. Logo, os professores e seus alunos são vítimas potenciais da dengue e outras tantas enfermidades. Há três ou quatro anos, mais ou menos, eu fiquei "dengoso". Uma semana de cama para não querer que a dose se repita. No posto médico, o profissional me deu atestado de três dias de licença, apenas. E a escola onde eu trabalhava anteriormente meteu falta, sem dó. E é assim que Minas avança, punindo seus filhos, seus professores, seus alunos, menos aos de cima. Que coisa!

Mas, vamos mudar de assunto para algo mais agradável: o prêmio de produtividade, que Minas, o país, diz que vai pagar no sábado de Aleluia próximo. Aleluia, irmãos! Contudo, nem o novo Papa ainda sabe de quanto será o prêmio. Temos uma vaga ideia de que receberemos algo próximo de 50% do salário de dezembro de 2011 - aquele salário, reduzido pelo governo antes de nos forçar a aceitar o subsídio. Quem não se lembra disso? Vamos repetir a história: em janeiro de 2011 todos os educadores de Minas foram jogados na malha, ou melhor, na vala do subsídio, novo sistema criado pelo governo de Minas, país, para escapar de fininho de pagar corretamente o piso na carreira. Mas o governo, para dar um ar de legitimidade ao golpe, abriu a possibilidade dos educadores optarem pelo antigo sistema, que sem o piso aplicado, representava valores menores do que o subsídio. Os educadores que sabem fazer as contas optaram - cerca de 153 mil - pelo antigo sistema, de vencimento básico e gratificações. Aguardavam o cumprimento da Lei Federal, com a devida aplicação do piso. O governo, para punir estes teimosos, reduziu os salários destes a partir de maio até dezembro de 2011, obrigando a todos a retornarem ao subsídio em janeiro de 2012. E não só não aplicou o piso na carreira, como não devolveu um centavo do que cortou dos 153 mil durante aqueles meses (de maio a dezembro de 2011). E nada aconteceu ao governo, pois no país de Minas, o Ministério Público é uma espécie de autarquia do governo. E a Justiça, lógico, espera ser provocada por sindicatos, OAB, deputados e ministérios públicos. Como nada disso acontece, arquiva-se o caso no país de Minas.

Aliás, essa ideia de Minas-país "vem de longe", como dizia o velho Brizola. Nem vou buscar os primórdios do nascente estado, na corrida ao ouro, que engendrou riquezas e misérias, como sói acontecer neste sistema. A ideia de Nação, dizem, depois de perseguida com diferentes sentidos, foi buscada nas montanhas de Minas. De revoltas e traições, assim se fez o novo estado-país. Mas, mais recentemente, nos períodos que antecederam ao golpe de 1964, que derrubou o então presidente João Goulart (Jango), Minas fora parte dessa trama - a pior parte, aliás. Antes mesmo do golpe, o governo do banqueiro Magalhães Pinto já conspirava contra Jango e tinha a pretensão, inclusive, de declarar Minas um estado beligerante, para receber apoio financeiro e militar dos EUA. Mas os golpistas de Minas foram pegos de surpresa e atuaram como meras figuras coadjuvantes de golpistas de outras paragens. O resto, a história testemunha, com a longa noite de 21 anos, que resultou em cassação dos direitos da cidadania, em prisão, tortura e execução de centenas de lideranças populares e cidadãos comuns. A "democracia" (com aspas) de Minas e do Brasil continua correndo sérios riscos.

E finalmente, para falar um pouco da Educação, vou tocar num ponto do qual não concordo muito: a campanha pelos 10% do PIB.  Não que eu seja contra que se aumente a verba para a Educação. Mas, preocupo-me, sobremaneira, com a propaganda enganosa que estes percentuais deixam escapar. Os estados são obrigados a investir 25%, pelo menos, de suas receitas, na Educação. Isso, no país-Minas, não resultou até agora em real melhoria dos salários e condições de trabalho dos educadores. Os 10% do PIB, quando e se acontecer, pode ser usado para tudo. Até mesmo para financiar a vinda do Papa a Minas Gerais. Quem sabe a Copa do Mundo não será incluída como parte de um projeto educacional de incentivo às crianças ao esporte? Acho que é preciso ser mais objetivo nas nossas reivindicações. Por exemplo: ao invés de 10% do PIB para a Educação (ou juntamente com isso), seria melhor 10% do teto salarial do serviço público nacional como piso dos educadores. Nenhum professor poderia receber menos que 10% do teto, como piso (o que daria em torno de R$ 3.000,00, quase o dobro do piso atual, que em Minas não se aplica). Até para fins de marketing seria mais ilustrativo mostrar que os professores, modestos, estariam reivindicando apenas uma décima parte do teto salarial que é pago aos ministros do STF, aos deputados e outros chefes dos demais poderes - eles, que nunca descuidam dos reajustes dos seus próprios salários. Mas querem 10% do PIB? Tudo bem. Querem ser enganados? Tudo bem. Não duvidem que Dilma, Aécio, Eduardo Campos e Marina Silva prometam até 15% do PIB para a Educação... para depois da COPA de 2030, quando o pré-sal virar pó.

No mais, vamos nós sobrevivendo com todos os arranhões, sem o piso, sem saber do prêmio, com dengue, e aguardando as Copas. Ah, e o Mineirão? Isso fica para outro post, né pessoal?... Elton John, Paul McCartney, este país virou mesmo rota internacional, menos para quem é professor-de-Minas...

Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória!

                               ***


Frei Gilvander:

Dom Oscar Romero: 33 anos de martírio e de legado libertador

                              Gilvander Luís Moreira*

Dia 24 de março de 2013 celebramos 33 anos de martírio de dom Oscar Romero, arcebispo da arquidiocese de San Salvador, capital de El Salvador. Nomeado bispo por ser considerado conservador, passou por um processo de profunda conversão e assumiu a causa dos pobres.

Sentiu profundamente o assassinato do padre Rutílio Grande, seu secretário, e de milhares de lideranças camponesas, de Comunidades Eclesiais de Base, que se levantavam contra a ditadura militar imposta sobre El Salvador.

Eis, abaixo, 17 anúncios e denúncias que ecoaram a partir da boca de Romero nas suas homilias. Através da Rádio, a mensagem de Romero encontrou acolhida nos corações de tanta gente que segue vivendo se inspirando no ensinamento e testemunho libertador de Romero.

1. “Irmãos, eu gostaria de gravar no coração de cada um esta ideia: o cristianismo não é um conjunto de verdades nas quais devemos acreditar, de leis que devem ser cumpridas, de proibições! Assim se torna muito repugnante. O cristianismo é uma pessoa, que me nos amou tanto, que pede nosso amor. O cristianismo é Jesus Cristo e o evangelho.” (06/11/ 1977)

2. “Que maravilha será o dia que cada batizado compreender que sua profissão, seu trabalho, é um trabalho sacerdotal; que, assim como eu celebro a missa no altar, cada carpinteiro celebra sua missa na sua carpintaria, cada profissional, cada médico com seu bisturi, a mulher na feira, no seu lugar de trabalho… estão fazendo um ofício sacerdotal. Quantos motoristas que escutam esta mensagem no seu táxi. Tu, querido motorista, junto ao volante do seu táxi és um sacerdote se trabalhas com honradez, consagrando a Deus seu táxi, levando uma mensagem de paz e de amor a teus clientes que vão no seu automóvel.” (20/11/1977)

3. “Uma religião de missa dominical, mas de semanas injustas não agrada ao Deus da Vida. Uma religião de muita reza, mas de hipocrisias no coração não é cristã. Uma Igreja que instala só para estar bem, para ter muito dinheiro, muita comodidade, porém que não ouve os clamores das injustiças não é a verdadeira igreja de nosso Divino Redentor.” (04/12/1977)

4. “Ainda quando nos chamem de loucos, ainda quando nos chamem de subversivos, comunistas e todos os adjetivos que se dirigem a nós, sabemos que não fazemos nada mais do que anunciar o testemunho subversivo das bem-aventuranças, que proclamam bem-aventurados os pobres, os sedentos de justiça, os que sofrem.” (11/05/1978)

5. “Muitos querem que o pobre sempre diga que é “vontade de Deus” que assim sobreviva. Não é vontade de Deus que uns tenham tudo e outros não tenham nada. Não pode ser de Deus. A vontade de Deus é que todos os seus filhos e filhas sejam felizes.” (10/09/1978)

6. “É ridículo dizer que a Igreja se tornou marxista. Porém há um "ateísmo" mais próximo e mais perigoso para nossa igreja: o ateísmo do capitalismo, quando os bens materiais se tornam ídolos e substituem Deus.” (15/09/1978)

7. “Uma igreja que não sofre perseguição, mas que desfruta privilégios e o apoio de coisas da terra – Tenham Medo! – não é a verdadeira igreja de Jesus Cristo.” (11/03/1979)

8. “Quantos existem que não dizem ser cristãos, porque não têm fé…! Têm mais fé no seu dinheiro e em suas coisas do que no Deus que criou tudo.” (03/0 /1979)

9. “Para que servem belas estradas e aeroportos, belos edifícios e grandes palácios, se foram construídos com o sangue de pobres que jamais vão desfrutá-los?” (15/07/1979)

10. “Não nos cansemos de denunciar a idolatria da riqueza, que faz consistir a grandeza da pessoa humana no ter e esquece que a verdadeira grandeza é ser. A pessoa humana não vale pelo que tem, mas pelo que é e faz.” (04/11/1979)

11. “Devemos buscar o menino Jesus, não nas imagens bonitas de nossos presépios. Devemos buscá-lo entre as crianças desnutridas que foram dormir esta noite sem ter o que comer, entre os pobres vendedores de jornal que dormiram muito mal.” (24/12/1979)

12. “Que maravilha será o dia em que uma sociedade nova, em vez de armazenar e guardar egoisticamente, se partilhe, se reparta e se alegrem todos, porque todos nos sentimos filhos do mesmo Deus! Que outra coisa quer a palavra de Deus neste ambiente salvadorinho senão a conversão de todos para que nos sintamos irmãos?!!!” (27/01/1980)

13. “Não é um prestígio para a Igreja estar bem com os poderosos. Prestígio para a igreja é sentir que os pobres a sentem como sendo sua, sentir que a igreja vive uma dimensão na terra, chamando todos, também os ricos, à conversão e à salvação a partir do mundo dos pobres, porque eles são unicamente os bem-aventurados.” (17/02/1980)

14. "Se denuncio e condeno a injustiça é porque é minha obrigação como pastor de um povo oprimido e humilhado... O Evangelho me impulsiona a defender meu povo e em seu nome estou disposto a ir aos tribunais, ao cárcere e à morte.”

15. “Tenho estado ameaçado de morte frequentemente. Tenho que dizer-lhes que como cristão não acredito na morte, mas na ressurreição: se me matam, ressuscitarei no povo salvadorenho. Digo isso sem nenhuma vanglória, mas com grande humildade. Como pastor, estou obrigado, por mandato divino, a dar minha vida por aqueles que amo, que são todos os salvadorenhos, inclusive por aqueles que vão assassinar-me. Se chegarem a cumprir as ameaças, desde já ofereço a Deus meu sangue pela redenção e pela ressurreição de El Salvador. O martírio é uma graça de Deus, que não creio merecer. Porém se Deus aceita o sacrifício de minha vida, que meu sangue seja semente de liberdade e sinal que a esperança se torna realidade. Minha morte, se aceita por deus, seja para a libertação do meu povo e como testemunho de esperança no futuro. Vocês podem dizer, se chegarem a me matar, que perdôo e bendigo aqueles que me matarem. Desta maneira se convencerão que perdem seu tempo. Um arcebispo morrerá, porém a igreja de Deus, que é o povo, nunca perecerá.” (março de 1980)

16. “O Reino já está misteriosamente presente na nossa terra. Quando vier o Senhor, se consumará sua perfeição. Esta é a esperança que alenta a nós os cristãos. Sabemos que todo esforço para melhorar a sociedade, sobretudo quando está tão metida na injustiça e no pecado, é um esforço que Deus bendiz, que Deus quer, que Deus exige de nós.” (24/03/1980)

17. Dom Oscar Romero bradou aos militares que estavam assassinando o povo: “Nenhum soldado está obrigado a obedecer uma ordem contrária à lei de Deus que diz: “Não Matar.” Uma lei imoral não deve ser cumprida por ninguém. Soldados, em nome de Deus e no nome deste povo sofrido, cujos clamores sobem até ao céu cada dia mais tumultuosos, lhes suplico, lhes rogo, lhes ordeno em nome de Deus: cessem a repressão.”

Dom Oscar Romero vive em todas as lutas libertárias!

Belo Horizonte, MG, Brasil, 25 de março de 2013.

* Frei e padre da Ordem dos carmelitas; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma; doutorando em Educação pela FAE/UFMG; assessor da CPT, CEBI, SAB e Via Campesina; conselheiro do Conselho Estadual dos Direitos Humanos de Minas Gerais – CONEDH; e-mail: gilvander@igrejadocarmo.com.br – www.gilvander.org.br – www.twitter.com/gilvanderluis - facebook: Gilvander Moreira

quarta-feira, 6 de março de 2013

O debate prossegue... nas Minas da fantasia e do poeta

   
O debate prossegue... nas Minas da fantasia e do poeta

Mais de 200 comentários em poucos dias no texto anterior. É hora de abrir novo post. Com breves palavras, para dar mais espaço aos navegantes. Marujos de um mar revolto, encravado entre as montanhas de uma Minas que existe, para alguns, na fantasia da mídia, enquanto que para outros, na realidade do poeta e do meu contracheque.

São muitas as coisas, os temas, que atormentam a vida dos educadores de Minas. A começar pelo mais importante: carreira e salário. O governo destruiu as duas coisas ao mudar as regras do jogo para burlar a Lei do Piso. Mas, tudo começou em 2003, no início do mandato do faraó. Ali se construiu um projeto voltado para a destruição da carreira dos educadores. Primeiramente, retirando as gratificações dos novatos; depois congelando os salários, com reajustes ridículos. Quando entrei no estado, em 2003, ainda como designado, recebia cerca de três salários mínimos. E já era pouco. Dez anos depois, já nomeado em 2005, meu salário total na rede estadual é de dois mínimos, congelado até 2015 e sem qualquer perspectiva de carreira. Esta é situação dos professores de Minas. Para se ganhar um pouco mais é preciso acumular dois cargos e trabalhar feito burro de carga, mais de 48 horas por semana. Com muito custo, muita pressão e negociação, os constituintes de 88 definiram a jornada de trabalho no Brasil em 44 horas. É um montante muito grande do tempo das pessoas, fora o tempo de transporte, dedicado ao trabalho, e muito pouco tempo dedicado ao lazer, ao entretenimento, à boa leitura, que seja. Mas num outro país, chamado Minas Gerais, para se receber mais do que dois mínimos é preciso trabalhar 48 horas por semana, no mínimo.

E veio o piso dos educadores, que em Minas foi pisado. O governo somou tudo - básico e gratificações - e anda dizendo por aí que paga até mais do que o piso, quando o piso deveria ser apenas o vencimento básico, que deixou de existir em Minas. A Lei do Piso fala em jornada de até 40 horas para se pagar o danado do piso de R$ 1.567,00 enquanto vencimento básico. Um dinheirão! Pena que nenhum deputado, ou ministro do STF, ou governador de estado, ou ministro do MEC, ou secretária da Educação, ou do planejamento - ou o raio que o parta! -, nenhum deles se disponha a trocar os salários deles pelo nosso, de professor-de-Minas. Já fiz esta proposta aqui antes e não obtive resposta. Troco o meu salário inteiro de professor-de-Minas por um terço apenas do salário dessas figuras que decidem as nossas vidas.

E veio o terço de tempo extraclasse. Era para reduzir o tempo em sala de aula e aumentar o tempo disponível do professor para que este se dedicasse à pesquisa, ao estudo, ao planejamento das aulas, à correção de provas, etc. Mas no país chamado Minas Gerais nada se transforma, tudo se distorce. O terço virou um sexto. Antes havia um quarto de tempo, que em geral os professores cumpriam em casa. Agora não. O professor cumpre um sexto do tempo em casa e passa o resto do tempo na escola. A escola sucateada do país chamado Minas Gerais não oferece condições para um real trabalho extraclasse. No meu modesto bunker eu tenho Internet banda larga à minha disposição; tenho os livros de que necessito para consultas; na escola não. Tenho o silêncio e a paz necessários para um trabalho intelectual à altura do que se exige de um professor. Na escola não existem essas condições. Em nenhuma das duas mil e tantas que existem nas Minas. Logo, a lei federal foi novamente distorcida. Os relatos dos professores aqui no blog dão conta de um cansaço generalizado da categoria. Muito trabalho, pouco salário, muito desgaste, pouco incentivo. Doenças físicas, mentais e emocionais grassam.

Mas a propagando das Gerais nos revela uma outra realidade. Minas é o paraíso. Como eu pude viver até hoje sem conhecer este pedacinho do céu? Mandem cartas para o nosso e-mail nos dando pistas de como chegar ao país Minas Gerais. Onde fica? Queremos saber. Os atores e atrizes da Rede dos Marinhos e Cia limitadíssima deveriam indicar o mapa da mina. Onde fica aquela Minas da propaganda? Já disse e repito: é melhor do que Pasárgada, onde o rei me convida para tomar o café da manhã e almoçar no palácio todos os dias. Claro que eu não aceito, pois com o salário de professor-de-Minas que recebo não me habituei às extravagâncias de um banquete palaciano. Certamente passaria mal.

Mas uma parcela dos mineiros deve coçar a cabeça vez ou outra indagando sobre o inusitado cenário que se apresenta diante deles. Na Minas da propaganda, a Educação é a melhor do planeta; no bolso dos educadores, o pior salário do planeta. Até mesmo no tal prêmio de produtividade, os professores foram punidos. Sei de mim que cumpri as metas colocadas pela direção da escola. E meus colegas também. E como prêmio pela nossa eficiente produtividade, vamos receber 50% do salário de dezembro de 2011 - aquele, achatado, pisoteado e confiscado por mais um choque de gestão do governo de Minas. Não que eu faça questão de receber prêmios, de forma alguma. Aliás, dispensaria este e outros prêmios em troca de um salário justo. Mas é importante mostrar a distância entre a propaganda e a realidade. A melhor educação do planeta trata os seus agentes, os educadores, com salários de fome, piso sonegado, carreira destruída e prêmio de produtividade pela metade, além de reduzir o tempo extraclasse a um sexto da jornada de trabalho.

Sobre o sindicato, não quero nem tecer longos comentários. Desde que ingressei na carreira da Educação em Minas, minha experiência com a direção sindical que detém o monopólio da máquina sindical ad infinitum e ad eternum nunca foi amistosa. Já fui impedido de falar várias vezes nas assembleias da categoria. Paga-se um preço por ser independente e não aceitar o jogo dos que se julgam os donos. Donos de quê? Já assisti a muita manipulação, que levou parte da categoria à descrença na entidade, e à derrota. Tudo bem que não se deve culpar exclusivamente a direção sindical por todas as mazelas existentes na categoria. O governo - os governos, aliás - é (são) o (s) principal (is) culpado (s). Tá bom, isso é fato. Mas de governos só se espera isso mesmo. E do sindicato, que nos representa? Posso afirmar, sem receio de errar, que faltou humildade e disposição de ouvir a categoria. Até recentemente, quando eu ainda tinha tempo e disposição para participar das atividades sindicais, me dispus a contribuir na discussão jurídica, em defesa do nosso piso, com os advogados do sindicato. Minha proposta foi recusada, pois a direção se sentia frágil demais para aceitar tal "intromissão" de um estranho no ninho. Aí eles jogam para as instâncias da entidade, de cartas marcadas. Fingem que praticam democracia, quando na verdade são a expressão da negação de uma real democracia, daquela que horizontaliza e dialoga com a base. Diálogo real, não monólogos, como acontece com frequência (e a Marly lembrou bem dessa prática no blog dela).

Não vou avançar, como ousou Marly, e dizer para as pessoas se desfiliarem. Não estou seguro de que este seja o melhor caminho, embora respeite as opiniões divergentes. E também não estou com disponibilidade de tempo para assumir a construção de uma alternativa sindical. Mas, concordo com a Marly quando ela prevê o surgimento de novas lideranças. Ela própria é uma das grandes lideranças da categoria. Novas e velhas lideranças, não comprometidas com esquemas partidários e de grupos alheios aos interesses de classe da categoria haverão de se encontrar e formar um movimento que consiga recuperar tudo o que se perdeu nos últimos 20 ou 30 anos, pelo menos.

Enquanto isso, o circo continua. Que não falte o pão, já que outras coisas, até o momento, só existem mesmo na propaganda. Na Minas do poeta e do meu contracheque, vive-se à espera de um amanhã com a Educação pública de qualidade para todos, saúde decente, moradia para todos, e mais tempo livre para as artes, para a reflexão crítica do mundo, para a cultura, enfim.

Um forte abraço a todos e força na luta! Até a 

nossa vitória!

P.S.: Enquanto a mídia nacional e mundial destila ódio contra Hugo Chávez, o que se vê nas ruas de Caracas é um profundo amor do povo venezuelano pelo comandante. Para assistir ao funeral do líder bolivariano, clique aqui ou aqui (Venezolana de Televisión).



                                ***


Frei Gilvander:

          Chavistas mais fortes
             Gilvander Luís Moreira*

O dia 05 de março de 2013, dia da morte de Hugo Rafael Chávez Frias, aos 58 anos, vítima de um câncer devastador, tornou-se um dia histórico para a esquerda mundial, especialmente para os anticapitalistas, os indignados com capitalismo, máquina de moer vidas. Os verdadeiramente socialistas e, por isso, revolucionários, estão comovidos com a morte, antes do tempo, deste carismático líder que foi Hugo Chávez.


Contrariamente, os capitalistas que só vêem a superficialidade da vida, cantam vitória, pois, são necrófilos (amantes da morte). Mas não precisamos indignar em demasia por isso, a história demonstra que quem viveu fazendo a diferença, combatendo o bom combate, amou verdadeiramente o próximo e arriscou a vida na luta contra o infernal sistema de triturar vidas, mesmo que morrendo, permanecerá vivo.  Continua vivendo de forma plena. Assim, tenho a convicção de que Hugo Chávez será mais forte, agora, do que quando estava vivo. Perdemos apenas a presença física dele, mas Hugo Chávez continuará vivo e presente nos corações e mentes de milhões de venezuelanos, de afrolatíndios e de militantes de todos os povos injustiçados.

Tive a alegria de participar do 6º Forum Social Mundial, em Caracas, na Venezuela, em janeiro de 2006. Na época, Delze e eu escrevemos um artigo intitulado “VI Fórum Social Mundial: um mundo democrático-participativo e socialista em construção”

 Artigo publicado na Revista HORIZONTE TEOLÓGICO, ano 4 n. 7 jan/jun 2006, pp. 151-161.) e disponibilizado, via internet, no seguinte link: http://www.gilvander.org.br/S008.htm . Recordo, aqui, alguns trechos do artigo, porque, segundo informações de companheiros que estiveram na Venezuela nos últimos meses, o processo de Revolução Bolivariana está mais avançado e mais conquistas sociais estão em curso.

Caracas, capital da Venezuela, foi o palco da 6a edição do Fórum Social Mundial – VI FSM – de 24 a 29 de janeiro de 2006, que contou com a participação de mais de 80 mil inscritos em mais de 2 mil atividades, geridas por 2.500 organizações, 3.000 voluntários e 4.900 jornalistas. A delegação brasileira realizou 450 atividades.


A Venezuela tinha em 2006 uma população de 26 milhões de habitantes. Na Grande Caracas, mais de 5 milhões de pessoas. Grande parte da cidade está situada em um vale rodeado de montanhas. O clima é bom, com uma temperatura amena e sem ventos fortes.

O governo bolivariano liderado pelo presidente Hugo Chávez deu apoio irrestrito ao evento. Podemos citar a liberação do Metrô para os participantes, que circularam de graça com muito conforto, a isenção da taxa aeroportuária e o lanche gentilmente servido pelos voluntários a cada tarde nos locais de maior concentração.
Sobre a Revolução Bolivariana na Venezuela, escrevemos: um povo está se libertando. Além de participar de muitas conferências, seminários, oficinas e debates, conhecemos aspectos da realidade venezuelana que nos marcaram indelevelmente. São dezenas de iniciativas da revolução bolivariana que visam a justiça social. Um grande mutirão pela educação acabou com o analfabetismo no país. Em 2005, a UNESCO declarou a Venezuela um país livre do analfabetismo, tornando-se o segundo país da América Latina a conseguir este feito depois de Cuba. O povo controla e comercializa o petróleo, grande riqueza natural da Venezuela, que agora serve para melhorar a vida das pessoas e não mais aumentar o lucro das empresas transnacionais. Acima de tudo, encontramos um povo cheio de esperança, uma juventude em sua maioria esclarecida e comprometida com a organização popular, com a construção de uma democracia verdadeiramente participativa.

Na Venezuela, o povo está cheio de esperança. Ouvimos críticas a Hugo Chávez por parte dos canais de TV que estão nas mãos das elites e por uma minoria privilegiada. Mas, internamente, entre os pobres e marginalizados pelo regime anterior, não ouvimos críticas ao processo implementado por Hugo Chávez.

Em janeiro de 2006, havia na Venezuela, 14 mil Mercados Populares - MERCAL -, que alimentavam cerca de 14 milhões - dos 26 milhões - de venezuelanos, onde os preços eram de 30 a 50% mais baixos do que nos mercados privados. Visitamos um desses mercados. Cada pessoa podia comprar somente o que consome sua família. Era proibida a compra em grande quantidade, o que poderia viabilizar a revenda.

Alfredo contou-nos, na época, que trabalhava em um dos mercados populares criados pelo governo para abastecer as populações empobrecidas. Relatou-nos: "O Mercal é uma coisa ótima, permite que as pessoas possam comprar alimentos baratos. Antes, os empresários faziam o preço que queriam e os pobres ficavam na mão. Hoje, num Mercal, o quilo de frango - base da comida venezuelana - custa 1.500,00 bolívares (equivalente a 1,50 real), enquanto que nos mercados privados passa dos quatro mil bolívares (quatro reais). "Os empresários não gostam, mas eles precisam aprender que é preciso investir na produção e que a prioridade tem de ser o povo. Hoje, com o Mercal, o alimento chega a todos, inclusive para as comunidades indígenas"

A gasolina era quase de graça: 0,07 centavos o litro. Com R$ 3,70 se enchia o tanque do automóvel. Tudo isso com o assentimento dos defensores da Constituição da República Bolivariana da Venezuela que prescreve ao Estado o dever de regular as relações comerciais no país.  


Na Venezuela bolivariana, todos os estudantes que cursam universidades públicas ou que ganham bolsas de estudos devem prestar serviço social à comunidade. Deve haver uma contrapartida para a sociedade de quem usufrui o dinheiro do povo, via impostos, para estudar. Em jan/2006, estavam sendo investidos na educação pública 7,5% do PIB – Produto Interno Bruto.

O governo de Hugo Chávez apoiava a instalação, regulamentação e funcionamento de rádios comunitárias. Não havia burocracia para conseguir a documentação e o governo ajudava financeiramente na compra dos equipamentos para se fortalecer a comunicação alternativa e mais interativa. Lembrete: estou dizendo apoiava, porque é informação de jan/2006, mas informações de companheiros que estiveram lá nos últimos meses dão conta de que mudanças profundas estão sendo implementados em benefício do povo empobrecido na Venezuela. Sinal disso é a última reeleição de Hugo Chávez, o que provavelmente vai se confirmar na eleição que acontecerá dentro de um mês.


Enfim, na Venezuela, a democracia participativa está irrompendo com vigor. Os intelectuais venezuelanos estão convictos de que uma revolução não se sustenta somente no carisma de uma só pessoa.  No entanto, mesmo conscientes do caráter carismático de Chávez, reconhecem os cientistas políticos a grande liderança do presidente e a importância de sua atuação como líder revolucionário e como militar na liderança do processo revolucionário que está caminhando a passos largos na Venezuela. Essas observações foram por nós confirmadas no dia 27 de janeiro de 2006, das 19:00h às 22:30h, quando o presidente Hugo Chávez, no estádio Poliedro, falou por mais de três horas para os milhares de participantes do VI FSM.

Saímos do encontro com a percepção que Hugo Chávez é realmente um legítimo líder. Sorridente, carismático, culto, estrategista e além de falar bem ainda canta com uma voz afinada. O que vimos e ouvimos confirmam a impressão que tivemos do grande comandante. Chávez, em seu discurso, resgatou a memória histórica revolucionária de Bolívar e de todos os/as revolucionários/as da história, passando por Jesus Cristo. O discurso dele é uma verdadeira aula de história a partir dos pobres que lutam contra os sistemas opressivos. Analisa o presente com olhar crítico e injeta esperança nas pessoas, pois cultiva a utopia: a construção de uma sociedade socialista, democrática, popular na América Afrolatíndia.

Na ocasião, os presidentes Hugo Chávez e Evo Morales, esse em seu primeiro dia de governo na Bolívia, firmaram oito convênios que visavam a integração entre os dois países. O governo venezuelano venderá petróleo, a baixo preço, para a Bolívia e ajudará a superar o analfabetismo, como já fez na Venezuela. Ofereceu milhares de bolsas de estudos para jovens bolivianos cursarem universidade na Venezuela. Cuba também ofereceu 5 mil bolsas.

Hugo Chávez, ao tempo em que estruturava internamente o país, demarcava sua política externa. Anunciou com firmeza: “Bush chefia o império mais cínico, mais hipócrita e mais assassino de toda a história da humanidade. Por mais poderoso que seja o império de Bush, não vai conseguir nos vencer. Já detectamos espionagem dos EUA na Venezuela. Advirto ao governo dos EUA: a próxima vez que encontrarmos espiões na Venezuela, vamos mandá-los para o cárcere.”

Acerca da importância da união dos povos latino-americanos, afirmou Hugo Chávez: “não dá para exigir que Lula seja igual a Chávez, ou que Kirtchner seja igual Evo Morales ou Fidel. Estamos juntos, marchando na mesma direção. A união dos povos latino-americanos é fundamental para derrotarmos o imperialismo estadunidense e o neoliberalismo. A ALCA já foi descartada. Bush não conseguiu aprová-la como queria”.

“Não podemos esperar mais!”, afirmou Hugo Chávez, ao falar para os milhares de participantes do VI Fórum Social Mundial em assembléia no estádio Poliedro. Se passarmos os olhos por toda a América Latina, veremos que o nível de exploração capitalista e o avanço do neoliberalismo chegaram ao limite.

Enfim, deram com os burros n’água os que mandaram assassinar Che Guevara, Jesus Cristo, Martin Luther King e tantos outros revolucionários, pois eles vivem intensamente nos corações e mentes de milhões de seguidores. Assim, intuo que Hugo Chávez, agora não mais presente fisicamente no meio do povo venezuelano, será mais forte do que quando estava vivo. Seus ensinamentos e ações vão ganhar eloqüência nos chavistas. O sonho de Chávez agora, mais do que nunca, estará vivo em milhões de chavistas.

Em tempo: Sugiro a leitura do livro QUEM TEM MEDO DE HUGO CHÁVEZ? América Latina: integração pra valer, de F.C. Leite Filho, São Paulo: Ed. Aquariana, 2012, com prefácio de Beto Almeida.

Belo Horizonte, MG, Brasil, 08 de março de 2013.

 * Frei e padre carmelita; bacharel e licenciado em Filosofia pela UFPR, bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, Itália; doutorando em Educação pela FAE/UFMG; assessor da CPT, CEBI, SAB e Via Campesina, em Minas Gerais; e mail: gilvander@igrejadocarmo.com.br –www.gilvander.org.br – www.twitter.com/gilvanderluis - facebook: Gilvander Moreira