sábado, 21 de dezembro de 2013

O jeito euleriano de entrar de férias


Finalmente chegaram nossas merecidas férias. As chuvas vieram juntas. Aqui em Vespó, pelo menos, não para de cair pó, quero dizer, água. Pó, de poluição, bem entendido. Tive notícia que, juntamente com as férias, caiu na nossa conta o décimo terceiro salário. Nada mal. No caso dos educadores, é preciso gastá-lo com parcimônia, bastante calma, planejar e pensar cada centavo, caso sobre algo, após o pagamento das contas de rotina - água, luz, telefone, arroz, feijão e pão. Ano que vem tem salário mínimo novo: R$ 724,00, em janeiro. Se os 5% de reajuste para os educadores de Minas saírem, e quando saírem, os professores do estado passam a ganhar, ou melhor, continuam a ganhar os dois mínimos de teto salarial. Enquanto juízes, deputados, senadores, governadores, e outros tipos brigam para justificar os valores acima do teto de R$ 30 mil, acrescentando verbas indenizatórias de todo tipo, os professores de Minas travam uma outra luta. A de conseguir sobreviver com o teto de dois mínimos. Mas, o importante é que estamos de férias, a cabeça e o corpo estão mais leves, pelo menos na intenção. Tratei até de mudar a fachada do blog. Estou fazendo o mesmo com meu bunker. A gente muda os móveis de lugar, para manter a mesma coisa. Fui alertado por um dos nossos leitores que o blog atingiu a marca de 3 milhões de acessos. Lembro-me - disso a gente nunca esquece - quando atingimos o primeiro milhão. Até mesmo o Frei Gilvander me entrevistou para que tentasse explicar como o blog conseguia tantos visitantes. Afinidades, talvez. As pessoas gostam deste blog porque encontram aqui mais um espaço com o qual se sentem à vontade para falar o que pensam. O que não é pouca coisa, nos dias atuais. E viva Frei Gilvander, com sua incansável luta em favor dos de baixo. 2014 está próximo. Copa do Mundo e eleições, duas combinações explosivas no Brasil atual. Não se sabe se as manifestações que ocorreram em junho retornarão em 2014. É provável que não, ou, pelo menos, não da forma como aconteceu antes. Eu havia registrado aqui o meu entusiasmo com o povo nas ruas. E ao mesmo tempo, a minha preocupação com a manipulação por parte da mídia golpista e de direita, sempre tentando dar o tom às muitas palavras de ordem dos manifestantes. O alvo da direita brasileira é sempre o mesmo: derrotar o governo federal nas mãos do PT. Falem o que quiserem, mas se a presidência da república estivesse nas mãos dos tucanos ou aliados, a situação para os de baixo estaria muito pior. Lula e Dilma para mim cometeram quatro erros que considero graves: 1) não investiram na destruição do monopólio da mídia nas mãos de poucas e mafiosas famílias; 2) escolheram mal os ministros do STF, quando deveriam adotar um critério político e ideológico claro, indicando juízes comprometidos com as lutas sociais dos de baixo; 3) investiram pouco na educação básica, quando deveriam federalizar pelo menos a folha de pagamento dos educadores; e 4) não fizeram o que fez o governo do Equador, ou seja, uma auditoria na dívida interna e externa, que seguramente revelaria que o Brasil nada tem a pagar. Hoje, esta dívida, que beneficia poucos banqueiros e famílias ricas, drena boa parte dos recursos que deveriam ser investidos na Saúde pública, na Educação pública, na moradia popular, no transporte coletivo, etc. Mas, apesar destes equívocos graves, próprios de um partido que não tem um NÚCLEO DURO de esquerda, de classe, a comandá-lo, apesar disso, dizia, o governo federal fez também coisas boas a favor dos de baixo, que por questão de justiça vou nomeá-las: 1) criou e fortaleceu o programa Bolsa Família, que retirou milhões de pessoas da miséria e da fome; 2) criou o programa Mais Médicos que está levando médicos cubanos (Vivam os médicos cubanos! - sem nenhum demérito aos brasileiros, claro) aos rincões esquecidos do Brasil; 3) criou outros programas sociais como o Luz para todos, o Minha casa, minha vida, o Pro Uni, os programas de cotas sociais, para índios e negros e mulheres; a redução no preço da energia elétrica, o aumento do salário mínimo acima da inflação, entre outros. Não há dúvida, portanto, que, a permanecer o quadro eleitoral atual votarei novamente na Dilma. Não havendo uma alternativa eleitoral mais à esquerda com reais chances de vitória, não vou correr o risco de entregar de bandeja a presidência para alguém que está fechado com o que há de pior no cenário nacional e internacional.  Mas, para quê falar de política neste momento, quando entramos de férias? Quero mesmo é planejar meus próximos dias com caminhadas pela cidade, algum passeio bem próximo - nada de extravagância, claro. Quero aproveitar também para degustar os melhores pratos a preços módicos - comida caseira é sempre mais barata e saudável -, assistir a muitos filmes pela Internet, e ouvir muita música de qualidade - enquanto não conseguirem impedir a livre circulação de ideias, textos, áudios e vídeos; e acima de tudo, passear pelas ruas da cidade, conversar com as pessoas sem aquele compromisso de horário marcado. Não me convidem para nenhuma reunião formal, nenhuma assembleia, nenhuma revolução, inclusive. Estou de férias, e a luta de classes pode esperar um pouco. Desejo a todos e todas os/as queridos/as navegantes e leitores os melhores momentos neste período de férias e de festas de final de ano e início de ano novo.

Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória!

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segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

O jeito aético e anestésico de governar Minas...


O jeito aético e anestésico de governar Minas...

Minas quebrou, dizem alguns. Aliás, Minas não quebrou, pois não existe mais, segundo o renomado poeta mineiro. Reconheçamos, se Minas ainda existe, trata-se de um milagre. Depois de passar por tantos desgovernos, só o lá de cima mesmo para fazer com que as coisas ainda existam aqui embaixo, no inferno.


Vamos pegar os últimos 20 anos para uma breve análise de um observador amador. Longe de mim querer produzir uma tese acadêmica sobre o tema. Não tenho fôlego, nem tempo, nem tesão para tal. E sem esses ingredientes, não há química que que faça uma teoria se sustentar. Ou o inverso.

Bom, fato é que, de acordo com a ficção (era uma vez...), tudo começou com os governos tucanos. FHC praticamente quebrou o Brasil, que já vinha meio que descendo morro abaixo desde os governos militares, passando milagrosamente pelos Sarney, Collor e Itamar. Quando eu digo que o país ou o estado "quebrou", não significa que isso tenha atingido a todos igualmente. Claro que não. Nós, os de baixo, sempre ficamos com a pior parte, enquanto muitos, dos de cima, até ganham com isso. E muito. 


Fato é que na longa era FHC qualquer crisezinha em qualquer parte do planeta ou em outras galáxias associadas tinha imediata repercussão no Brasil. O remédio era sempre o mais amargo possível: mais juros, mais recessão, mais desemprego, enfim, algo sempre com gosto de fel, especialmente para a maioria pobre. A inflação ficava baixa, mas também, né, sem dinheiro para consumir, sem crédito, sem nada, era natural que a macroeconomia pudesse resolver o problema teórico da inflação. Aqui na ponta, contudo, os preços subiam, os salários ficavam defasados, e não havia qualquer reajuste.

Foi mais ou menos neste espetacular quadro que o primeiro governo mineiro dos tucanos foi inaugurado - aquele, que inaugurou também o mensalão mineiro, esquecido, ao contrário do chamado mensalão do PT. Depois veio o do topete, que travou uma guerrinha midiática particular com FHC, também conhecido, este, em alguns meios, como o príncipe da privataria, sabe-se lá o porquê. De príncipe ele nada tem. Nesta primeira fase da gestão tucana e do seu futuro aliado do topete, Minas já estava quebrada, literalmente. Como o Brasil é uma parte, é um elo, digamos, de uma corrente capitalista mundial, toda vez que a situação dos países mais ricos desta corrente melhora ou piora, os elos fracos são de alguma forma atingidos.

Na era tucana, o país estava totalmente aberto, no pior sentido, aos capitais internacionais. Qualquer espirro de qualquer país, virava uma tuberculose crônica aqui no Brasil. E Minas, já em estado vegetativo, marcava a data para os seus funerais. Oh, Minas! Eis que o neto de um ex-governador e ex-presidente - que por azar do destino não tomou posse - assume o comando do estado, coincidentemente, junto com a mudança de gestão no cenário nacional. O Brasil ficava livre do peso da era FHC, mas em compensação, Minas não, continuara a carregar a carga. Oh, Minas!

Nos últimos 12 anos, mais ou menos, apesar de ter mantida a parte essencial da política neoliberal do príncipe das trevas (bem mais apropriado) - política de juros altos beneficiando banqueiros, pagamento de superávits, etc. - inaugurou-se, por outro lado, políticas sociais mais relevantes. A começar pelo Bolsa Família, o aumento do salário mínimo acima da inflação, e outras políticas de investimentos que contribuíram para que a economia tivesse expansão. Tal política de estado gerou mais emprego, menos recessão, embora não tenha resolvido um problema estrutural e inerente ao sistema capitalista: a má distribuição de renda.

O capitalismo, como todos sabem, é o sistema no qual poucos ganham cada vez mais, e muitos ganham cada vez menos. É a lei do mercado, ou da mercadoria, se preferirem. O estado entra nesta história teoricamente para tentar minimizar os impactos desta lei do cão, que os neoliberais adoram como se fosse tábua sagrada. Quando o estado - ou parte dele - está nas mãos de neoliberais, você tem mercado e estado remando numa mesma direção, sempre em prejuízo da maioria pobre, trabalhadora, assalariada ou desempregada. Quando o estado, ou parte dele - os governos, por exemplo -, estão nas mãos de gente com pensamento um pouco mais comprometido com os de baixo, observamos a realização de políticas em favor dos de baixo. Não salva a nossa alma, mas pelo menos ajuda a colocar mais trigo na mesa.

Com todos os defeitos, e limitações, e restrições, e etc e tal, o PT no governo federal cumpriu este papel de contrapeso à lei do cão selvagem também conhecida como mercado. Minas acabou atingida positivamente por este novo momento de crescimento da economia mundial e nacional. Mas os governos de Minas, ao contrário, sob o símbolo do chamado choque de gestão, não aproveitaram adequadamente este novo momento mundial e nacional. Lascaram uma política de arrocho salarial especialmente contra os educadores, só poupando os policiais militares, que ao contrário, tiveram reajustes e mais reajustes salariais, muito acima da inflação. O que não deixa de ser merecido, principalmente se a mesma política tivesse sido aplicada para todos os outros servidores. O que não ocorreu, contrariando a propaganda oficial, segundo a qual, se não me engano, "Minas avança, sem deixar ninguém para trás". Deixou sim, e muitos. Os profissionais da Educação, por exemplo, mas não somente, tiveram seu piso salarial nacional burlado e sonegado, sua carreira destruída, seus salários congelados.

Num mesmo período, enquanto os policiais militares tiveram 100% de reajuste salarial, os professores e demais educadores tiveram 10%, ou menos, se considerarmos que a metade destes 10% ainda está para ser paga. O resultado concreto desta política dos governos tucanos é que, antes da era tucana em Minas, um policial militar com ensino médio recebia mais ou menos igual ou até menos que um professor com curso superior. Em janeiro de 2015, um policial militar com ensino médio e em início de carreira receberá R$ 4.000,00 de salário, sem que tenha perdido a carreira. Já um professor com curso superior e 10 ou 15 anos de estado receberá de salário total, sem carreira, algo próximo de R$ 1.500,00. Foi este o legado da era tucana para a Educação pública mineira.

Volto a dizer: nada contra os policiais ganharem um salário digno, pelo trabalho de risco que realizam - não incluído aí, obviamente, a repressão aos movimentos sociais, que deveria ser proibida, já que problema social não é caso de polícia, mas de política social. Mas, este descompasso entre o tratamento dado aos policiais e aos professores mostra bem como Minas avançou só para um lado, deixando o outro, de grande relevância, para trás.

Claro que na propaganda paga tudo é diferente: temos a melhor educação da galáxia! Claro também que a educação pública em todo o Brasil, no ensino básico, vai muito mal, (des) obrigado! Um dos erros dos governos Lula-Dilma foi ter mantido a política de descaso para com a Educação básica. Aprovaram um piso de valor ridículo e que sequer foi cumprido, e ninguém foi parar na cadeia. Há muito já se deveria ter pensado na federalização do ensino básico, arrancando das mãos de estados e municípios a responsabilidade por esta área tão importante para o presente e para o futuro do Brasil. Contudo, por conveniências que agradam aos governos das diversas esferas e partidos e ideologias, mantém-se esta trágica realidade que sufoca os municípios, e faz os estados aplicarem leis draconianas, sempre em prejuízo dos educadores e da população pobre que utiliza os serviços públicos, incluindo a educação, a saúde, etc.

Em função de todo este embaraço relatado aqui em forma de ficção - vou acabar virando diretor de filmes de ficção científica, hehehe - Minas se encontra parcialmente quebrada. Está sendo salva ora por empréstimos, ora por jogadas contábeis, como a que acontece agora com um dos fundos de aposentadoria, que tinha algum dinheiro em caixa, inclusive o meu, e que será absorvido (evaporado) rapidamente pelo outro fundo, deficitário. Indiretamente, isso vai garantir o nosso décimo terceiro, e quem sabe até o nosso "prêmio", que bem que poderia ser antecipado, já que entrará dinheiro novo (nosso) nos cofres do governo. E se demorar muito a pagar, seguramente o dinheiro vai evaporar por completo. 


E quanto às pensões e aposentadorias, não se preocupem. De alguma forma o governo, o chamado tesouro do estado, terá que continuar pagando, nem que tenha que demitir todos os contratados e abolir as centenas de cargos comissionados criados na eficientíssima gestão de choque. Quem sabe numa dessas, o governo de Minas assume que quebrou e transfere para o governo federal aquilo que representa o maior gasto (para eles é gasto, e não investimento) no orçamento estadual: a folha de pagamento dos educadores. Seria tudo de bom se isso acontecesse, não acham?

Enfim e em suma, eram estas as considerações iniciais e finais que havia de apresentar para a aprovação ou não dos meus caríssimos leitores neste dia chuvoso de dezembro, em data bem próxima das merecidas férias, do Natal, Ano Novo, carnaval (ah, não, carnaval  ainda não) e tudo mais a que fazemos jus, incluindo as promessas de um ano melhor e uma vida melhor ainda para todos. Amém? Não vejo a hora de poder acordar e dormir mais tarde, e quem sabe até realizar uma breve viagem de descanso. É o que recomendo a todos e todas os/as colegas educadores, que precisarão de fôlego renovado para as próximas lutas, que definirão os destinos da Educação pública e da sofrível realidade dos profissionais da Educação de Minas e do Brasil.

Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória!
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quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Ah, que canseira me dá esta mídia medíocre e serviçal dos piores interesses...



Ah, que canseira me dá esta mídia medíocre e serviçal dos piores interesses...

Não vou citar nomes, nem datas, nem locais, para não dar margens a processos judiciais, que se tornaram rotina por parte de figuras que buscam calar as vozes impertinentes. Portanto, os fatos e versões que estão por aí, nos ares, para quem quiser vê-los, não passam de ficção. Este texto, inclusive.


Diariamente somos bombardeados, terroristicamente bombardeados, por comentaristas cretinos da mídia mineira e nacional, que buscam retaliar – o termo está em voga – as realidades, os fatos, e apresentá-los como se fôssemos imbecilizados como eles o são. Julgam-nos pela mesma régua e compasso que se aplicam a eles, e não a nosotros.

Nem meia tonelada de pó branco seria suficiente para limpar os olhos desta mídia serviçal dos de cima. Ah, se fosse com o PT, a manchete de capa seria: quadrilheiros do PT estão envolvidos também com tráfico de drogas. Como se trata de gente ligada ao esquemão de poder que banca esta mídia, procura-se aliviar a barra, a culpa já é do mordomo, não precisam nem apurar coisa alguma. Aliás, no tal mensalão do PT, a última coisa que fizeram foi apurar os fatos, pois tudo já estava escrito: a culpa era dos dirigentes do PT e pronto.


Longe de mim querer defender o PT, partido que considero covarde, fraco e conciliador demais para meu refinado gosto. Jamais fui militante do PT, justamente por não concordar com seu viés conciliador, candidato eterno a se tornar o bom moço pobre da Casa Grande. E sempre rejeitado pelos de cima, que não aceitam o lado “social” do PT, aquele, do Bolsa Família, do Pro Uni, do Minha Casa Minha Vida, do Mais Médicos, entre outros programas que amenizam e muito o sofrimento, a vida danada da maioria pobre da população brasileira. 


A nossa elite da Casa Grande não aceita concessões para a senzala. Ela é atrasadíssima, recalcada, ressentida, mal amada. Não aceita ter perdido a presidência da República para um operário, ainda que este operário não seja exatamente o melhor modelo de uma concepção classista, ou seja, para o bom entendedor, um operário meio que bundão, que luta pelos de baixo, mas que faz de tudo para agradar aos de cima.


Nos últimos dias, o principal partido da direita brasileira, cujo nome não preciso citar, todos já sabem, foi pego com calças curtas. São evidências e denúncias documentadas de envolvimento com propinas e outras falcatruas mais que envolvem meio R$$$$ bilhão de reais, no mínimo. Dos fiscais da prefeitura da mais rica cidade do Brasil, até um tal de Trensalão, que teria atravessado três ou quatro  governos daquela legenda, no também mais rico estado do Brasil. Ah, se fosse com o PT. O assunto seria exaustivamente explorado, cada detalhe de uma novela sem fim seria exibido em horário nobre, como aconteceu com o mensalão. 


Contudo, como se trata de pessoas ligadas aos queridinhos das elites cretinas que dominam o Brasil há séculos, o tratamento é outro.  A mídia golpista serviçal dos piores interesses consegue esconder estes fatos, e o que pior, tem tentado colocar no colo de outro bundão, o atual prefeito de SP, a culpa de tudo quanto aconteceu em duas décadas de governos, quando o PT era oposição. Ou então desviar o foco e jogar a culpa pra cima de outro não menos bundão, que atende pela condição de ministro da justiça de um certo país. Só esclarecendo para os menos avisados: "bundão" não é aquele que tem nádegas grandes, mas o tipo vacilante, conciliador, covarde, incapaz de enfrentar de frente os inimigos.
 
De certa forma, o PT tem a sua culpa nisso tudo. Pela omissão, pela conciliação de classe, e até mesmo pelas escolhas. Foi o PT quem indicou os principais carrascos do próprio PT no STF, incluindo o agora herói da direita brasileira, que atende também pelo nome de Batman. O tal, maldosamente, orquestrou a prisão num feriado nacional de figuras conhecidas do partido da Dona Dilma e de seu Lula, com ampla e espetaculosa propaganda midiática. No post anterior já dissemos que esse papo de que o "mensalão" teria sido o maior escândalo da história da humanidade, como a mídia tenta vender, é mero papo furado. Milhares de outros escândalos e roubos e desvios e caixa dois e três e quatro, muito piores, estão impunes. E vão continuar assim, pois os seus autores são os donos do país. 


Mas para a nossa mídia, os "mensaleiros do PT" são os maiores bandidos do Brasil e do mundo, tudo por conta daquele esquema de caixa dois de campanha, que nasceu em Minas, bem antes, e continua impune, e ficará impune, já que é a grande mídia quem decide quem são os culpados, os inocentes, os mocinhos e os bandidos. Aos juízes – com raras e honrosas exceções -, cabe a tarefa de dar a sentença pautada pela mídia. Esta é a nossa democracia, baseada nos prejulgamentos de uma mídia dominada por poucas famílias e um judiciário (com exceções) que se curva à opinião publicada e produzida pela mídia.


O problema é que boa parte da população que não tem outra fonte de informação – ainda bem que a Internet está quebrando este monopólio – pauta-se, igualmente, por este espetáculo diário de mentiras e falsidades. A rigor, os principais órgãos de comunicação se fartaram com as verbas do tal desvio que o mensalão teria provocado. Vocês sabiam disso? Sabiam que os tais R$ 73 milhões que teriam sido desviados do Banco do Brasil, eram na verdade, segundo documentos que circulam pela Internet, recursos privados do cartão Visanet, usados para pagar publicidades, que foram parar no bolso de quase todos os grandes órgãos de comunicação do Brasil, incluindo os de Minas? Pois é. Mas eles não dizem que se fartaram dos recursos que se tornaram pretexto para colocar na cadeia os dirigentes do PT e de outros partidos. Ah, isto eles não noticiam. Quem são os quadrilheiros, afinal?



O gozado mesmo foi a notícia do suposto rapto de uma criança, que inicialmente teria sido sequestrada por pessoas identificadas como “chineses”. Rapidamente os comentaristas de uma rádio local se apressaram em culpar o mau funcionamento das câmeras de BH. Hahahahaha! Façam-me rir! São ridículos estes caras. Depois se descobriu que foi a própria mãe da criança, talvez deprimida, segundo o marido, que negociara a doação e simulara um sequestro. Não vem ao caso, aqui, analisar e prejulgar o infeliz ato da tal senhora. Mas os nossos comentaristas locais, sem qualquer dado de análise, foram logo prejulgando e colocando a culpa na PM (vejam: na PM, e nunca, jamais, no governador, nem no ex, claro, que estão acima do bem e do mal) e nas câmeras que não funcionaram. 


Já no caso da meia tonela de cocaína encontrada num helicóptero de propriedade de políticos ligados ao grupo que domina o poder num certo estado-país da federação, o tratamento foi outro, com luvas de pelica. Primeiro, coube ao portal do jornal que avoca a condição de ser o maior dos mineiros, arrancar a afirmação de um delegado da PF, que antes mesmo de qualquer investigação, teria declarado que a princípio os tais donos do helicóptero não têm qualquer envolvimento. Tá bom, tudo bem. Sem apuração, investigações, não dá mesmo para culpar ninguém, mesmo havendo esta coincidência do seu carro estar sendo usado pelo seu motorista particular para transportar drogas. Que culpa você haveria de ter, afinal? Em princípio, até prova em contrário, nenhuma.


Mas, com os “mensaleiros” do PT a história foi diferente. Muito antes de serem julgados pela instância máxima da justiça, já estavam condenados pela mídia: “mensaleiros”, “quadrilheiros”, “bandidos”. Dois pesos, duas medidas. É o mesmo que fazem também agora contra os “baderneiros” do Black Bloc e de outros grupos e movimentos sociais. Para esta mídia a serviço dos piores interesses, todos eles não passam de baderneiros, vândalos, bandidos que ameaçam a ordem e a santa propriedade privada de alguns poucos, incluindo aí os privilégios que foram acumulados ao longo de muitos anos de grandes e repetidas nebulosas transações.



Não passam, estes traficantes da notícia, com as devidas vênias e exceções, de cínicos, cretinos, serviçais dos de cima. Não se envergonham disso, pois sabem que cumprem este papel, são bem pagos para isso, para ficarem martelando na nossa orelha, 24 horas por dia, ditando valores e conceitos e preconceitos e normas que servem apenas aos interesses dos de cima, aos quais eles precisam bajular para manter o padrão de vida que “conquistaram”. Triste sina a destes infelizes.



Até quando os de baixo vão tolerar esta real bandidagem dos de cima, não se sabe. Mas, presume-se, com base na história da humanidade, que a paciência, até mesmo do nosso pacato povo – pacato, segundo a versão oficial – tem limites. E cuidado, amigo leitor, com o que ouve e com o que lê diariamente. Eles estão te enganando! Não seja mais um repetidor destes palhaços (com o perdão dos verdadeiros e dignos artistas circenses). E termina aqui, mais um capítulo da nossa novela-ficção.


Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória!


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sábado, 16 de novembro de 2013

Remando contra a maré...

Remando contra a maré...

O Brasil inteiro assiste, desde ontem, dia 15, dia da chamada proclamação da república (estamos distantes de uma república verdadeiramente democrática), a coincidente ordem de prisão de vários personagens ligados ao chamado "mensalão". Tenho alguns comentários a fazer sobre tal tema, e também sobre a atitude do STF, comparando a ação deste órgão com outros casos e também com o nosso caso - nosso, dos educadores de Minas e do Brasil.

O chamado mensalão teve origem em Minas Gerais, com políticos e empresários ligados ao esquema de poder dos tucanos, e o no hall adquirido neste esquema foi transferido em parte para integrantes do governo do PT. Em linhas gerais, trata-se da conhecida prática de caixa dois de campanhas eleitorais, coisa moral e politicamente equivocada, mas que faz parte da vida política da "república" brasileira, desde muitos e muitos anos. Em cada esquina deste país, é difícil encontrar um político profissional ou um empresário que não tenha, de alguma forma, participado de algum esquema de caixa dois. Por isso considero hipocrisia, cinismo e falso moralismo atribuírem ao esquema chamado "Mensalão" a condição de "maior escândalo da história do Brasil".

A grande mídia, com o histórico de golpismo que lhe é peculiar, e ligada aos piores interesses contra o povo pobre do Brasil, há oito anos faz um carnaval sensacionalista em torno do tema, sempre dando foco aos ex-dirigentes do PT, como José Dirceu e Genoíno, tentando claramente envolver o governo federal e desbancar a liderança do PT na disputa pelo Palácio do Planalto.

É certo que o PT tenha a sua culpa nesse processo todo, tenho dito isto aqui. Foi conivente com as práticas que criticara em outra época; conciliou com a direita fisiológica em quase tudo; foi omisso em relação ao monopólio da mídia que se mantém criminosamente nas mãos de poucas famílias - todas elas a serviço dos piores interesses. A democracia brasileira não merece este nome enquanto não houver uma real democratização dos meios de comunicação - e nisso o PT pouco contribuiu para alterar.

Mas, daí a aceitar que o PT seja o único ou o principal protagonista do "maior escândalo de corrupção" do país vai uma grande distância. Dezenas de outros grandes casos de corrupção e desvios de dinheiro público, praticados por lideranças políticas de outros partidos, e envolvendo grandes empresários e outros tipos, continuam impunes. Só para citar alguns casos notórios: o mensalão mineiro, a privataria tucana, o propinoduto em SP, a compra de votos para a reeleição de FHC, entre muitos outros casos.  Nenhum deles recebeu o mesmo tratamento, tanto por parte do STF quanto por parte da mídia, que foi dispensado ao caso do mensalão ligado a ex-dirigentes do PT. Por que será?

Mas chamo a atenção também para a atitude coincidente do presidente do STF, que despachou as ordens de prisão em pleno dia 15 de novembro, quando o processo sequer havia sido encerrado no próprio STF. E me lembro aqui do nosso piso salarial, dos educadores, que o STF primeiro suspendeu de forma liminar, e depois, apesar de haver dado ganho de causa para os professores, jamais tomou qualquer atitude para fazer cumprir a sua decisão. Dois pesos, duas medidas. No caso do julgamento político do mensalão, o presidente do STF se apressou em querer fazer cumprir a decisão tomada pelo STF, mesmo ainda antes de haver "transitado em julgado", para usarmos o juridiquês da Corte brasileira. Já no caso do piso salarial dos professores e demais educadores, quando governos como o de Minas burlaram descaradamente a Lei Federal e a decisão do STF, nada aconteceu contra tais governantes, incluindo, justiça se faça, um governador do PT do RS, que também descumpriu a norma federal.

E para não fugir ao tema inicial e justificar o título que dei ao post, indico ao final do texto um link que contém um vídeo, segundo o qual, a principal denúncia do mensalão estaria sustentada numa farsa. São os tais R$ 73 milhões da Visanet, que supostamente os acusados teriam usado para comprar deputados. De acordo com o STF, trata-se de recursos públicos desviados para fins ilícitos. Mas o vídeo citado tenta mostrar que não houve desvio algum, que estes recursos eram privados - e não públicos -, e que teriam sido usados para pagar os serviços de publicidade para divulgação do cartão Visanet, por parte do Banco do Brasil. A maior beneficiária destes recursos, aliás, segundo o vídeo, teria sido a própria Globo. Uma perícia paralela teria sido realizada para provar que os recursos citados foram de fato aplicados na mencionada campanha de promoção da Visanet. Afinal, quem tem a razão? Em quem acreditar, num país cujas instituições são quase sempre pautadas pela grande mídia, que é dominada por poucas famílias, a começar pela TV Globo, confessamente envolvida com o golpe civil-militar que derrubou o presidente constitucional João Goulart em 1964. 

Aliás, é curioso que justamente neste mesmo dia 15 de novembro, quando a presidenta Dilma prestava merecida e tardia homenagem ao ex-presidente deposto Jango - cujo corpo foi exumado recentemente, com a suspeita de envenenamento quando este se encontrava exilado -, justamente nesta data, a mídia transfere todo o foco para as "prisões do mensalão do PT", orquestrada pelo novo herói da direita brasileira, o presidente do STF.

Ah, não dá para contemplar esta paisagem em silêncio. Que a população não se deixe enganar pelas aparências e pelos setores golpistas, que querem, em nome do mesmo falso moralismo que servira de pretexto para derrubar Getúlio e Jango, simplesmente destruir qualquer possibilidade de políticas sociais que favoreçam a maioria pobre sempre excluída.  O Brasil precisa mudar, mas não para cair nas mãos da direita golpista.

Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória!

Link indicado: www.ocafezinho.com/2013/09/24/dinheiro-da-visanet-foi-pra-globo/


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Frei Gilvander:

Uma ode à intolerância - AMALOU e ABRASEL-MG e suas orientações em relação à população em situação de rua

Por Pedro Paulo Gonçalves e Maria do Rosário de Oliveira Carneiro

No dia 02 de outubro de 2013, o jornal O Estado de Minas veiculou matéria intitulada “Bairro de Lourdes tenta evitar presença de mendigos”, que versa sobre o posicionamento e ações empreendidas pela Associação dos Moradores do Bairro de Lourdes (Amalou) e pela Associação de Bares e Restaurantes de Minas (Abrasel, MG) em relação à presença da população em situação de rua no bairro de Lourdes, em Belo Horizonte.

As ações empreendidas com o aval das associações ilustram e reforçam o modo extremamente agressivo e intolerante por meio do qual a população em situação de rua é vista e tratada por parte da sociedade brasileira. O título da matéria já começa com um tom injurioso e difamatório, o que contribui para legitimar as ações empreendidas por aquelas associações e, ademais, reforçar o preconceito embutido na palavra mendigo, se considerarmos sua origem etimológica: pessoa que possui algum defeito e que, por essa razão, é considerada inapta ao trabalho. A palavra é derivada do latim mendum e traz consigo a ideia de “defeito”, “vício”, que, inerentes à pessoa, precisam ser corrigidos, eliminados. (Para ler todo o texto, clique aqui).

O déficit habitacional cresce e com ele as Ocupações

Gilvander Luís Moreira

A especulação imobiliária está crescendo e com ela, o déficit habitacional e, conseqüentemente, as ocupações urbanas.

Políticas habitacionais populares estão quase só em discursos e vãs promessas. Somente na região metropolitana de Belo Horizonte, MG, já são mais de 25 mil famílias em Ocupações urbanas, umas planejadas e outras “espontâneas”. Direitos fundamentais, como o de morar com dignidade, estão sendo violados. Somente em quatro ocupações estão cerca de 12 mil famílias: 4 mil famílias na Ocupação William Rosa, em Contagem, MG; 4.500 famílias na Ocupação Vitória; 2 mil famílias na Ocupação Esperança; e 1.500 famílias na Ocupação Rosa Leão. Essas três na Região do Isidoro/Granja Werneck, em Belo Horizonte, com 8 mil famílias. (Para ler todo o texto, clique aqui).
 

sábado, 2 de novembro de 2013

Os supersalários de Minas, país que se recusa a pagar o piso dos professores...


Os supersalários de Minas, país que se recusa a pagar o piso dos professores...

Minas Gerais, outro país, não paga sequer o piso salarial nacional dos educadores da rede estadual, mas é generoso com alguns setores do serviço público. TCE, TJMG, PGE, além do Legislativo, são órgãos cuja média salarial está muito acima daquela que se paga aos profissionais da Educação. Não há qualquer isonomia, inclusive em relação aos planos de carreira, que têm estrutura comum a todos os servidores do estado, menos para os educadores, para os quais as regras foram pioradas, a ponto de praticamente igualar a remuneração entre iniciantes e antigos servidores - dois salários mínimos de piso e de teto, por cargo, para todos os professores.

A mesma Procuradoria Geral do Estado, que foi contra a greve dos educadores em 2011 e se colocou a favor do governo na questão do piso salarial - governo que, de forma descarada, burlou a Lei federal 11.738 -, pelo visto, não demonstra qualquer acanhamento quando se trata de editar regras, que, de acordo com o promotor de Defesa do Patrimônio Público Eduardo Nepomuceno, podem ter privilegiado alguns servidores apostilados.

Enquanto servidores do Legislativo de Minas, do TJMG, do TCE e da PGE - além da PM de Minas - têm tratamento diferenciado, com vencimentos bem mais condizentes com a complexidade das suas respectivas funções ou carreiras, os educadores de Minas recebem salário de fome, e sequer o mísero reajuste de 5% prometido pelo governo de Minas foi pago no vencimento de outubro.

Vejam o que publicou o jornal O Tempo sobre os supersalários de alguns servidores em Minas neste e neste endereços eletrônicos, que transcrevemos a seguir:

" Salários poderão ser cortados 

Conselho Nacional do Ministério Público pediu explicações sobre apostilamentos de servidores

Guilherme Reis


Uma representação do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) pode dar fim aos supersalários pagos aos servidores da instituição. Com os chamados apostilamentos, os funcionários tiveram saltos remuneratórios superiores ao previsto pelos seus planos de carreira. Após receber a denúncia de irregularidade, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) já pediu explicações à Procuradoria Geral de Justiça de Minas Gerais. Se os valores pagos forem considerados indevidos, os servidores terão que devolver os valores. 

O promotor de Defesa do Patrimônio Público Eduardo Nepomuceno enviou uma autuação ao CNMP que questiona a legalidade da Resolução 102 de 2002, editada pela Procuradoria Geral do Estado (PGE), que determinava a criação de um padrão remuneratório que beneficiava servidores apostilados.
 
A resolução da PGE determinava que aqueles que exerceram, durante certo período, um cargo de confiança na administração pública e que adquiriram o direito de incorporar parte dessa remuneração aos seus vencimentos de forma vitalícia sofreriam uma guinada em seus planos de carreira.
 “A lei estabelece que cada carreira tenha determinado o seu padrão remuneratório. Aquele servidor vai progredindo dentro do padrão. Os apostilados, com a criação da classe A em 2002, começavam já no padrão 86, mesmo que na origem ele estivesse na 35. A resolução é inconstitucional”, analisou o promotor.

De acordo com Nepomuceno, ele recorreu ao CNMP porque a Procuradoria de Justiça mineira se negou a fazer as alterações necessárias no plano remuneratório dos funcionários. “Já havia recomendado à Procuradoria Geral que revisse os critérios de remuneração, mas ela entendeu que já tinha passado mais de cinco anos desde a resolução e que ela foi acobertada por pareceres, ou seja, que estava dentro da lei”, destacou.

Devolução. A ação do promotor, além de pedir a readequação do padrão remuneratório dos apostilados, ainda exige “a devolução dos valores recebidos com correção” desde a data do desembolso pelos cofres públicos. Segundo Nepomuceno, mais de cem pessoas podem ser atingidas. 

“Estamos fazendo nossa parte, procurando as vias constitucionais, sem expor a dignidade de ninguém nem divulgar nominalmente o servidor. A questão precisa ser analisada. No nosso entendimento, ela gerou uma bola de neve e prejuízos aos cofres públicos”.

A Procuradoria de Justiça de Minas tem 15 dias para dar explicações ao Conselho Nacional do Ministério Público, que publicou, no último dia 28, a exigência no “Diário Oficial da União” (DOU). Apesar da publicação, o Ministério Público de Minas divulgou que não foi informado e que só vai se posicionar assim que tiver conhecimento da exigência."

" TCE e TJMG serão os próximos


 Os servidores do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) e do Tribunal de Contas de Minas Gerais (TCE-MG) que recebem supersalários serão os próximos alvos de ações do Ministério Público, que já investiga abusos nos contracheques desses órgãos, conforme adiantou O TEMPO.

O promotor de Defesa do Patrimônio Público Eduardo Nepomuceno aguarda informações do TJMG sobre a estruturação dos planos de carreira para enviar ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) a mesma denúncia que fez contra o Ministério Público. “Minha suspeita é que o mesmo tenha acontecido no TJ. Já pedi informações ao Tribunal, mas ainda não recebi. Se isso não acontecer, vou encaminhar a ação com o que já tenho”.

No caso do TCE-MG, a perícia indicou cerca de cem casos de progressão de carreira irregular. No entanto, como o órgão não tem um conselho como os MPs e os TJs, os questionamentos terão que ser encaminhas à Justiça em ações individuais. “Nesse caso, as decisões podem demorar mais”, avaliou o promotor.

Por meio de nota, o Tribunal de Justiça esclareceu que “os vencimentos são pagos, em regra, dentro do limite estabelecido pelo teto salarial”. Segundo o Tribunal, as exceções são casos de funcionários que conquistaram na Justiça liminares que lhes garantiram o direito de receberem acima do teto constitucional.

A assessoria de imprensa do TCE também afirmou que os supersalários na Corte são mantidos com base em determinações judiciais. (GR)"

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Reparem, os nossos queridos leitores, que o TJMG pagou salários acima do teto para aqueles funcionários que teriam conquistado liminares na Justiça. Em reportagens anteriores, o jornal O Tempo revelou que tais salários, em alguns casos, foram acima de R$ 100 mil. Enquanto isso, os professores, que conquistaram uma Lei Federal (do Piso) e mais uma decisão irrecorrível do STF, nem assim tiveram respeitado seu direito ao mísero piso salarial nacional enquanto vencimento básico mais gratificações. Por isso é que dissemos que Minas é outro país, dominado por uma elite que em geral - com raras exceções - não respeita as normas federais do Brasil. Com as bençãos de uma mídia que diariamente pratica vandalismo no noticiário tendencioso - e sem direito ao contraditório - contra os interesses da maioria dos mineiros.


Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória!

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sábado, 26 de outubro de 2013

Meritocracia para a Educação é papo furado

   Meritocracia para a Educação é papo furado. Conversa fiada de "especialistas" ou palpiteiros que nunca pisaram no chão de uma escola pública (ensino básico)

Tem sido muito comum e repetitiva a fala de "especialistas" em educação, ou mesmo jornalistas-comentaristas-palpiteiros de plantão, sobre a meritocracia como solução para os problemas da Educação. Em geral, essas pessoas nada falam sobre os baixos salários dos professores, ou sobre as péssimas condições de trabalho e baixos investimentos na Educação pública, na modalidade ensino básico. Ou quando falam em salários, dizem, cinicamente: "tudo bem que os salários são baixos, mas os professores precisam se qualificar melhor...". A própria "qualificação" dos professores e demais educadores deveria fazer parte de uma política séria de formação continuada dos profissionais da Educação. Política que não existe em Minas Gerais, ou em outras regiões do Brasil.

Contudo, o discurso recorrente dessa elite que se julga pensante, e que se atreve a falar da Educação básica sem conhecê-la de perto, é sempre o mesmo: a meritocracia seria a salvação para resolver o problema da qualidade da Educação. Papo furado. No fundo este discurso procura afastar a possibilidade de uma real política inclusiva e de qualidade para todos, que não existe no Brasil, a não ser na teoria, e substituí-la por uma política mercadológica, de competição entre os profissionais da Educação, visando dar algumas melhorias - tipo bônus ou prêmio - para alguns poucos, e manter a maioria com os baixos salários, em prejuízo do ensino como um todo.

Educação não é mercadoria, escola não é uma empresa privada (ou estatal), que precise apresentar resultados segundo as lógicas de mercado. O melhor resultado de uma escola e da Educação em geral é quando são capazes de formar pessoas, mais humanas, mais críticas, proporcionar uma formação universal, contribuindo para que estas pessoas ampliem sua visão de mundo, respeitando a diversidade de pensamento e de opinião.

Na meritocracia, escola boa é aquela que consegue bons resultados quantitativos em avaliações questionáveis, como acontece com aquelas que são feitas anualmente nas escolas públicas. Além das práticas tipo decoreba, ou treinamentos tipo vestibular, entre outras práticas - algumas até desonestas -, revela-se uma compreensão apenas formal dos conteúdos, numa visão quase empresarial, que enxerga apenas os frios resultados estatísticos: tantos alunos foram aprovados, outros tantos conseguiram nota X, o que representaria um suposto avanço em relação ao ano anterior. Ora, esta lógica desconhece os indivíduos na sua complexidade e diversidade, além dos diferentes contextos que dificultam o enquadramento em padrões de medições burocratizadas.

Uma das idiotices mais comuns, nesta linha meritocrática, é quando afirmam que é preciso remunerar melhor aos "melhores" profissionais. Tal afirmação é muito comum entre os neoliberais, que querem privatizar até as estrelas, se puderem, mas que desconhecem completamente a realidade de uma escola pública que se pretende inclusiva. Num ambiente educacional não dá para separar: este professor é bom, aquele é ruim; este merece receber um bônus extra, aquele outro não. Só pensa assim quem nada conhece acerca da realidade da Educação pública.

Na rede pública de ensino de Minas Gerais, por exemplo, só para ficarmos numa realidade mais próxima, temos cerca de 160 mil professores na ativa, espalhados por mais de 3 mil escolas, muitas delas situadas em áreas de risco, outras em regiões mais tranquilas, mas quase todas sem equipamentos adequados de trabalho - laboratórios, bibliotecas, espaços de lazer e esporte, etc. Em função dos baixos salários e da carreira destruída, boa parte das escolas não conta com o quadro completo de professores - faltam especialmente professores de Matemática, Química, Física e Biologia, mas não somente. Para completar o quadro de pessoal, admite-se a contratação precária de qualquer um, isso mesmo, qualquer um, mesmo que não seja graduado em coisa alguma. Já que a lógica dos governantes do Brasil é colocar uma pessoa tomando conta de alunos durante um período do dia, tanto faz se quem o faça seja um professor habilitado ou alguém que esteja apenas fazendo um bico.

É neste cenário desolador, de baixos salários, carreira destruída, não pagamento sequer do piso salarial profissional, coisas comuns ao estado de Minas e aos demais, que os tais "especialistas", alguns até formados em Harvard, aparecem com este papo furado de que é preciso implantar um sistema de meritocracia para que haja uma melhora na qualidade do ensino público. Digo e repito: conversa para boi dormir.

A "fórmula", se é que podemos chamar assim, para uma verdadeira solução para o problema da falta de ensino de qualidade na Educação pública básica é bem outra. E ela passa por alguns elementos que têm sido pauta das lutas dos trabalhadores de ensino público já há algumas décadas, como: a) carreira decente, que valorize os profissionais da Educação; b) política remuneratória justa e compatível com a complexidade do trabalho do magistério; c) política de formação continuada para todos (e não para alguns poucos sorteados, como acontece sempre nas redes públicas); d) democratização dos espaços escolares, tanto da gestão quanto da parte pedagógica, para que todos - professores, demais educadores, estudantes, pais de alunos - possam discutir, formular e implementar uma política pedagógica considerando as realidades nas quais estão inseridos estes sujeitos sociais. A meu ver, isto passaria necessariamente pela federalização do ensino básico, coisa que os governantes de todas as esferas - federal, estaduais e municipais -, por conveniências mil, não desejam que aconteça.

Mas, quem disse que os "especialistas" a serviço dos governos ou de empresas querem solução para os problemas da Educação básica? Quem disse que as elites dominantes querem que os filhos das famílias pobres se tornem protagonistas conscientes, não alienados das realidades que os tornam escravos desta mesma elite privilegiada? Esta elite não quer que a grande maioria pobre da população tenha pensamento crítico. Por isso, os governos que representam estas elites não querem que a Educação pública se torne uma carreira atraente. Eles não querem profissionais apaixonados pelo que fazem, que recebam salários dignos e que trabalhem em condições adequadas. Uma realidade assim faria com que os profissionais desejassem permanecer na Educação; todos pensariam em melhorar, e em se formar melhor, e em contribuir mais e mais com formação dos estudantes. Naturalmente veríamos muitos bons profissionais ingressando na carreira do magistério.

Mas, é mais fácil para os governos destruírem a Educação pública, atraindo pessoas que tratam o magistério como um bico, cumprindo apenas formalmente o papel de professor, para depois arrotarem este discurso chinfrim de que falta implantar um sistema de meritocracia que valorize melhor aos "bons". Uma lógica torpe e cínica, pois se se admite que uma maioria não está entre os "bons", como se justificar para os alunos (e seus pais) destes profissionais que estariam rotulados como "não bons"? Seria até interessante ver algum governo implantar esta meritocracia no ensino público, passando a remunerar de forma diferenciada profissionais com as mesmas atribuições e deveres - não por critérios transparentes e legítimos, como os títulos acadêmicos ou o tempo de serviço, mas pelo simples fato de que os alunos de tais professores tivessem conseguido melhores notas num dado momento. Seguramente os pais seriam incentivados a ingressar na Justiça contra estes governantes, a exigir que seus filhos fossem matriculados nas turmas que tivessem como professores apenas os "bons". Já imaginaram que situação?

Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória!


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sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Por que os educadores de Minas desistiram de lutar?


Por que os educadores de Minas desistiram de lutar?

Tenho um pensamento diferente de alguns bravos colegas que aqui no blog têm afirmado que os educadores são covardes e que não partem para a luta por seus direitos. Pode até ser que uma parte da categoria - de qualquer categoria, aliás - seja de fato acomodada, alienada ou coisa que o valha. Mas, vejo a apatia da categoria dos educadores de Minas por um outro ângulo. Na verdade, o que ocorre hoje em Minas é o resultado de uma política deliberada, por parte da gestão Aécio-Anastasia, de destruição da carreira dos educadores, e consequentemente, de destruição da perspectiva de uma Educação pública de qualidade.

Os educadores de Minas, que foram capazes de realizar grandes paralisações nos últimos 30 anos, pelo menos, simplesmente deixaram de acreditar num futuro melhor para as carreiras do magistério. A maioria dos educadores, não importa se efetivos, efetivados ou designados, não trata mais a Educação como uma carreira que se deva levar a sério. Muitos estão adoecidos, outros conseguiram outras fontes de renda ou empregos, ou estão prestes a se aposentar. Afinal, são 12 anos de gestão de ataques ininterruptos aos direitos dos educadores de Minas. É dose cavalar, até mesmo para uma categoria acostumada a sofrer e a ser mal remunerada, tratada como se fizesse parte de uma obra de caridade e não de uma profissão considerada por alguns como das mais nobres.

No Brasil, o professor (e demais educadores) é tratado como artigo fútil por uma elite mais fútil ainda, que não se compromete com o presente e com o futuro de gerações de brasileiros, especialmente os mais pobres. Trata-se de uma elite mesquinha, acostumada a tratar os mais pobres como escravos, e que enxerga na Educação um artigo de luxo para as camadas populares.

A categoria de educadores, acostumada a sofrer, a lutar e a conquistar, mesmo que pequenas migalhas, de repente, num dado momento aprendeu que poderia sonhar com uma carreira decente. Acreditou nisso piamente quando aprovaram a Lei do Piso em 2008, com algumas regras bem definidas no seu texto constitucional, embora com um ridículo valor nominal no salário inicial.

Contudo, nem este mínimo que seria o piso enquanto vencimento básico foi cumprido pelos governos, a exemplo do governo de Minas, que tratou de burlar descaradamente a norma federal, abolindo de uma só tacada o vencimento básico e todas as gratificações e vantagens (quinquênios, biênios, pó de giz) adquiridas pelos educadores ao longo de muitos anos de luta. A Minas Gerais do neto de Tancredo, que hoje aparece na TV dizendo cinicamente que investiu na qualidade da Educação, simplesmente destruiu a carreira dos educadores. Implantou um subsídio como valor total (teto) de dois salários mínimos congelados até 2016. Rebaixou, apenas para os educadores, os percentuais de promoção e progressão na antiga carreira; aboliu, para a maioria,  o direito a férias-prêmio, depois de ter reduzido, apenas para os educadores, de três para dois meses o tempo que supostamente estes poderiam usufruir  o suposto direito - com quase 10 anos de carreira e já tendo direito a férias-prêmio publicado no Diário Oficial, fui informado pela secretaria da escola que só depois de 2020 eu teria uma remota possibilidade de usufruir tal direito, situação aliás comum à maioria dos educadores mineiros.

Minas usou todo o seu aparato estatal - governo, legislativo, judiciário, ministério público, e incluindo a imprensa, que é parte integrante da dominação de classe da mesma elite que detém o poder do estado em Minas e no Brasil -  para destruir a carreira dos educadores, e com isso, sucatear a própria Educação pública no ensino básico. Os educadores de Minas estão fora da Lei do Piso nacional, não têm carreira, estão divididos por políticas deliberadas do governo; e tiveram praticamente todos os seus direitos cassados por uma política de estado criminosa - sim, meus caros, quando se destrói deliberadamente uma carreira como a dos educadores comete-se crime contra milhares de pessoas que dependem do ensino público de qualidade para saírem da situação de miséria em que se encontram.

O governo de Minas - e de certa forma, o governo federal também, por omissão - é responsável direto pelo aumento da violência não só nas escolas, mas na sociedade como um todo; quando se destrói uma carreira como a dos educadores, aposta-se na destruição da possibilidade de se proporcionar a milhares de pessoas uma formação crítica, humanista e universal. Mas, para o governo de Minas e seus aliados, é mais importante investir em cadeias, na repressão, do que na educação dos seres humanos. É um governo que pensa em favor da elite dominante, a qual serve.

Talvez por terem percebido, diante de tantas perdas, de tantos ataques a seus direitos, de tanta insensibilidade por parte dos governantes, e de tanto sofrimento, que não mais vale a pena lutar pela valorização das carreiras do magistério é que os educadores se encontram apáticos. Não querem mais lutar. É um gesto que pode ser comparado com o suicídio coletivo de tribos indígenas quando atacadas pela cultura branca, ocidental, etnocêntrica. Os educadores mineiros não têm mais sonhos em relação à carreira deliberadamente destruída nos últimos 12 anos. Em Minas não existe mais sequer o direito de greve - outro direito constitucional que a gestão Aécio-Anastasia transformou em crime, sujeito à prévia punição.

A Educação em Minas e a realidade dos educadores só aparecem como boas na propaganda paga pelo governo. Nesta propaganda, Minas vive o paraíso, mais ou menos como no filme Matrix, uma projeção social de perfeita harmonia, ante um mundo real destruído.

Quando vejo as heroicas lutas dos professores do Rio de Janeiro, que recebem a solidariedade de milhares de pessoas, percebo que pelo menos lá eles ainda conseguem sonhar com um novo horizonte. Aqui, ao contrário, o sonho acabou para os educadores. Não há mais horizonte - logo num lugar com tão belos horizontes. O governo de Minas deixou um legado de destruição praticamente definitiva da carreira dos educadores, e dificilmente será possível mudar este quadro. Para a Educação pública básica, pelo menos, Minas não existe mais.

Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória, que não se resume ao cenário da Educação-de-Minas!

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domingo, 29 de setembro de 2013

Domingo com chuva, e mais uma análise do descaso com os educadores de Minas

Domingo com chuva, e mais uma análise do descaso com os educadores de Minas

O domingo é de chuva, muito bem vinda, por sinal. Lavou um pouco a poeira das ruas, e especialmente no meu bunker, que passa por modesta reforma. Em todo canto do meu pequeno canto se encontra com pó. "Pó pará, governador". Cinco por cento de reajuste para receber em novembro é tudo o que sua excelência, o afilhado do faraó, ofereceu aos sofridos educadores. Carreira destruída, piso sonegado, salário congelado, e agora, para passar a imagem de preocupação com a área da Educação, toma 5% ao final de quatro anos de governo (quatro mais oito do faraó candidato a presidência, com muitos toques na madeira). E o pior são as assessoras, berrando aos quatro ventos que Minas paga até 55% a mais do que o piso nacional dos educadores. Ai, ai, ai, isso dói nos ouvidos.

Como o sindicato da categoria tem dificuldade de esclarecer para a sociedade que a versão do governo não corresponde à realidade, e a nossa mídia tem dificuldade de entender aquilo que desagrada aos governantes de plantão, vamos tentar desenhar abaixo, explicando a realidade do piso em Minas - que, diga-se, se estende à realidade brasileira, já que Educação não é prioridade em nenhum estado. Nem a saúde pública, embora os médicos contratados pelo governo federal - e que sejam bem-vindos os médicos cubanos! - pelo menos receberão um pouco mais do que os professores do ensino básico - R$ 10 mil contra R$ 1,5 mil.

Vamos enumerar para facilitar a compreensão geral da nação. Mas, antes, contudo, porém, entretanto, quero fazer três rápidos registros, de uma linha apenas, e em seguida volto ao tema central, qual seja, o de como o governo de Minas não paga o piso e ainda diz que paga até 55% a mais.

Primeiramente, nosso renovado repúdio contra a criminalização dos movimentos sociais, o que resultou em prisão de vários combatentes que se manifestaram nas ruas no dia 7 de Setembro. Dois destes jovens lutadores - Ameba e Rodrigo - continuam presos - presos políticos, diga-se. Minas, com sua parafernália estatal ditatorial, dá mau exemplo para todo o país - de intolerância, de desrespeito aos direitos civis e às liberdades democráticas duramente conquistadas pelos lutadores sociais. E que em todas as nossas manifestações e diálogos cotidianos possamos condenar essas práticas que agridem nossos direitos: pela liberdade imediata do Ameba e do Rodrigo, e pela descriminalização dos movimentos sociais, incluindo o caso do professor André, de Juiz de Fora, indiciado durante a nossa greve de 2011.

A segunda nota de registro é de pesar, pelo falecimento do ator, diretor de teatro e um dos coordenadores do Arena da Cultura de BH, Marcos Vogel, a quem tive a honra de conhecer recentemente nas minhas atividades profissionais. Vogel era uma pessoa extremamente dedicada, sensível e atencioso com todos. Natural do Rio de Janeiro, transferiu-se para BH na década de 90, dedicando-se apaixonadamente à vida cultural da cidade, contribuindo inclusive com a criação do Arena da Cultura, uma escola de artes, nas suas diversas linguagens. Aos familiares e amigos de Marcos Vogel, os nossos sentimentos. Sem dúvida, ele fará muita falta no cenário cultural de BH - cenário este sempre rico e desafiante.

A terceira e última nota é sobre o acampamento dos educadores, organizado pelo sindicato da categoria, nas proximidades da residência do governador. Pelo visto - que local mais sombrio e isolado do mundo! -, finalmente resolveram torná-lo itinerante. Considero uma boa iniciativa, já que o local escolhido inicialmente tem pouca visibilidade. Ou seja: o povão não passa na porta do Palácio das Mangabeiras. E como a mídia mineira não noticia praticamente nada, e o sindicato tem dificuldade de comunicação e expressão, penso que é exigir muito dos colegas que se disponham a acampar naquele local. Algumas sugestões de locais para a itinerância do acampamento: assembleia legislativa, cidade inadministrável, em frente à sede dos grandes (em poder econômico) meios de comunicação - quem sabe assim eles descobrem que há um acampamento de educadores na cidade? -, na Praça Sete, enfim, há muitos locais que podem ser "ocupados" por um tempo. Infelizmente, não tenho podido participar pessoalmente dos acampamentos, mas me sinto representado pelo comandante João Martinho, sempre presente em todas as lutas dos educadores de Minas e de outros movimentos sociais também. O correto é participar diretamente - como sempre fiz - mas, como não está sendo possível acompanhar as movimentações, já elegi o comandante Martinho meu representante junto aos movimentos dos educadores. Na ausência dele, o Rômulo me representa. E mais ninguém, rsrs (ah, claro, se morasse em Montes Claros tal atribuição caberia à combativa colega Marly, que merecidamente está se aposentando de um cargo. E em outras cidades de Minas, tal fardo caberia aos combativos colegas do NDG). 

Agora voltemos ao tema-tese inicial: o governo de Minas paga o piso salarial nacional aos educadores? Vejamos:

1) pela Lei do Piso - 11.738/2008 - o piso é vencimento básico, sobre o qual devem incidir as vantagens e gratificações conquistadas pelos educadores ao longo da sofrida carreira. Em Minas Gerais, para não cumprir a lei federal, o governo alterou (destruiu) a carreira dos educadores. Para isso, o governo de Minas criou o subsídio, uma forma de pagamento usualmente utilizada para remunerar os altos cargos comissionados do estado. Professor é cargo de carreira, de baixa remuneração, mas mesmo assim, para não pagar o piso salarial corretamente, o governo de Minas implantou o subsídio, acabando com o vencimento inicial, incorporando todas as gratificações ao baixo valor nominal do subsídio (e com isso eliminando estas gratificações) e alterando, inclusive, e para pior, a estrutura das carreiras dos educadores. Por exemplo: uma mudança de nível, que para qualquer outra carreira do estado corresponde a 22%, para os educadores foi rebaixada para algo próximo de 10%; na progressão, houve mudança também de 3% (comum a todas as carreiras do estado) para 2,5% apenas para os educadores. Não bastasse tudo isso, a carreira foi congelada até 2016.

2) foi graças a este tremendo confisco e arrocho nos salários dos educadores, que a longa gestão faraó-afilhado pode realizar algumas poucas obras faraônicas, tipo cidade inadministrável, além de poder remunerar melhor a polícia militar, responsável pelo choque aos movimentos sociais. Como já dissemos aqui, não somos contrários a uma remuneração digna aos policiais, ou a qualquer outra carreira do estado, mas seria importante que houvesse uma isonomia no tratamento entre as carreiras. A PM receberá, em 2015, como vencimento inicial, algo próximo de R$ 4.000,00. Os educadores, nesta mesma data, receberão, como salário total, algo próximo de R$ 1.500,00. Em 2010 a PM ganhava, como salário inicial, em torno de R$ 2.000,00, enquanto os educadores recebiam, como salário total, em média cerca de R$ 1.000,00. Isso nos dá a medida de como o governo de Minas, nas gestões tucanas, trata (destrata) a Educação no estado: com total descaso, como elemento de quinta importância, quando muito.

3) o governo diz aos quatro cantos do planeta que paga aos professores até 55% a mais do que o piso salarial nacional. Então resolvemos fazer umas continhas, para que o leitor possa entender a essência e a diferença entre o que se diz e o que se pratica. O valor do piso salarial nacional atualmente é de R$ 1.567,00. Este é o valor mínimo e por isso tem o nome de piso. O governo de Minas tem a cara de pau de pagar como teto praticamente R$ 1.400,00 e ainda diz que paga até 55% a mais do que o piso. Vejamos: R$ 1.567 mais 55% é igual a R$ 2.429,00. Quase R$ 1.000 de diferença entre o discurso e a prática, em desfavor dos educadores.

4) o governo alega que paga sobre uma jornada menor, de 24 horas de trabalho. Tal argumento é falacioso, pois a Lei do Piso diz que o valor do piso deve ser pago para uma jornada de até 40 horas, podendo, os governantes, pagá-lo de forma proporcional às jornadas praticadas. Logo, o governo de Minas pode até lançar mão deste expediente negativo para os educadores, de pagar um valor menor pela jornada menor, mas de maneira alguma pode dizer que paga a mais, já que, como demonstraremos a seguir, o governo sequer paga o piso corretamente. Para ser coerente, já que o governo sonegou o piso e paga teto salarial, em forma de subsídio, deveria pelo menos cumprir o que diz, e pagar R$ 2.429,00 de salário inicial para os educadores, ao invés dos R$ 1.400 e poucos reais de salário total.

5) como dissemos antes, o governo burlou a Lei do Piso. Se tivesse aplicado corretamente a lei federal, inclusive com o valor proporcional à jornada de 24 horas, teria feito da seguinte forma (pela tabela antiga, que foi rasgada): para o professor com formação em ensino médio, R$ 940,20 de vencimento básico, mais as gratificações (biênios, quinquênios, pó de giz, etc.);  para o professor com licenciatura curta, R$ 1.146,00 mais as gratificações mencionadas; para o professor com curso superior, R$ 1.399,40 mais as gratificações; para o professor com especialização, R$ 1.707,26 mais as gratificações; para o professor com mestrado, R$ 2.082,85 mais as gratificações; e finalmente, para o professor com doutorado, R$ 2.541,08 mais as gratificações. Reparem que o valor do piso (vencimento básico) do professor com curso superior para a jornada de 24 horas deveria ser de R$ 1.400,00 sem as gratificações, valor este que o governo paga atualmente como remuneração total e ainda diz que paga até 55% a mais do que o piso. Ora, onde está o jurídico do sindicato que não consegue questionar estes dados na justiça? Onde está o Ministério público, ou a imprensa de Minas, tão atenta a todos os problemas da humanidade, que não consegue desnudar estes dados explicados aqui de forma detalhada, tolerante, até.

Conclusão: Minas não paga nem o piso, quanto mais os aludidos 55% a mais do que o valor nacional do piso dos educadores. Quaisquer que sejam os ângulos que analisemos a questão - pela aritmética, pela jurisprudência, pela ética ou pelo bom senso -, veremos que o estado de Minas está em débito eterno com os educadores, pois trata com descaso a área da Educação pública, e especialmente aos profissionais da Educação, vítimas de sucessivos desgovernos estaduais e federais - já que, infelizmente, este descaso com a Educação pública não é privilégio do reinado de Minas.

Neste domingo calmo e chuvoso, eram essas as considerações que gostaria de trazer à análise dos nossos fiéis e valentes leitores.

Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória!

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domingo, 22 de setembro de 2013

Direito de manifestação ameaçado em Minas, outro país


Direito de manifestação ameaçado em Minas, outro país

Na propaganda, Minas é o paraíso, já dissemos antes aqui no blog. Na vida real, Minas é um estado quase policialesco, arremedo mal feito da ditadura militar, que persegue jovens e idosos idealistas, que lutam por realidades diferentes daquela imposta pela roda demoníaca do sistema do capital. Tudo bem que grandes mudanças ocorrem ao longo de muitas décadas e séculos. São culturais as amarras que prendem as pessoas aos grilhões. Mas, no meio do caminho, além das pedras, há também conquistas, como as que ocorreram no Brasil no processo de luta contra a ditadura civil-militar. Essas conquistas democráticas são hoje negadas, sonegadas por governos como o de Minas Gerais, que bota tropa de choque nas ruas toda vez que jovens e idosos sonhadores ousam ocupar as praças e ruas para reivindicar direitos que as elites subtraem da maioria explorada dos de baixo.

Nas manifestações de Junho, boa parte delas espontâneas, que reuniram milhares de pessoas nas ruas, o governo de Minas e sua polícia tremeram nas bases. Ficaram de joelhos, literalmente, a ponto de mudarem o discurso e a prática em relação a esse movimento. Num primeiro momento, o governo tentou, através da justiça, proibir manifestações durante os jogos das confederações. Parte da Justiça mineira, como é totalmente servil aos governos (vejam, eu disse parte da justiça, pois nem todos os juízes têm essa conduta submissa), acatou o pedido do governo, decretando a abolição do direito constitucional dos cidadãos se manifestarem livremente. Tanto a intenção ditatorial do governo, quanto a equivocada decisão judicial foram rasgadas em praça pública quando centenas de milhares de jovens ocuparam todo o centro da capital mineira marchando livremente até os arredores do estádio de futebol reformado para os jogos da copa.

Passados os ventos de junho, com toda a carga de manipulação que a imprensa mineira e brasileira tentou dar ao movimento - tentaram mostrar que tal movimento era apenas contra o governo Dilma, contra os "mensaleiros do PT", escondendo que era um movimento contra TODOS os governos, independentemente da cor partidária -, o governo de Minas ainda ficou apreensivo por um tempo, chegando, de forma inédita, após 10 anos de gestão Aécio-Anastasia, a receber um grupo de jovens que manifestaram em praça pública, representantes da Assembleia Popular Horizontal.

Mas, como o movimento de rua perdeu força, temporariamente, como é comum acontecer, já que a vida prossegue e as pessoas precisam sobreviver, submetidas à roda-viva que rola sobre nossos pescoços, o governo voltou a mostrar as suas garras afiadas. Na manifestação de 7 de setembro, por exemplo, quando poucas dezenas de manifestantes voltaram às ruas de BH foram recebidos com tiros de borracha, armas de choque, cassetetes e gás de pimenta. Quase cinco dezenas de jovens foram presos. E ao contrário das manifestações de junho, não se tem notícia de que tenha havido quebradeira de vitrines de bancos e lojas de carros importados. No máximo, pelo que se viu ou pelo que se pode ler ou ouvir na própria imprensa dos de cima - Itatiaia, Estado de Minas, TV Globo, entre outros - o máximo que ocorreu foi um jovem fazer o tal "bundalelê" para a polícia, fator que teria despertado a ira da tropa que prendeu o tal jovem e todos os que estavam a sua volta, ou que tentaram defendê-lo.

A mídia mineira, como sempre, com raras exceções, cumpriu o seu papel de posto avançado do golpismo no Brasil, porta-voz da direita mais atrasada, recalcada e infeliz. Passou a condenar sem provas aos manifestantes de 7 de Setembro, elogiando a ação da polícia de choque, sem dar qualquer destaque aos abusos cometidos pela tropa de choque, e apresentando os jovens manifestantes como se fossem bandidos. O governo de Minas, por meio do seu órgão de repressão, chegou até a ensaiar um ato que seria a sua desmoralização total, o de apresentar os jovens presos à comunidade - cerca de 15 deles - como se fossem todos vândalos, bandidos, quando na verdade são jovens idealistas, sonhadores. Mas Minas não convive bem com o sonho, ou com o direito de sonhar, pelo menos. Minas tornou-se o estado da ditadura disfarçada por uma mídia cínica, que vive pendurada nos cofres do estado e das generosas verbas de grupos empresariais que são ligados aos governos de plantão.

Um dos jovens presos, que conheço pessoalmente, e é filho do amigo professor João Martinho, conhecido lutador das melhores causas, incluindo a do Movimento Negro, teve o seu cabelo raspado e foi agredido fisicamente. Uma agressão inaceitável, tanto a física quanto a moral e cultural, já que se ataca, com este ato, a cultura afro-brasileira. Um outro jovem, que está entre os dois que são mantidos presos, tive a oportunidade de conhecer e com ele dialogar em mais de uma oportunidade, há coisa de uma década, e também antes disso. Depois perdi o contato com vários colegas que, como ele, faziam parte dos movimentos libertários, ligados à esquerda mineira - comunistas, anarquistas, punks, jovens que sonham com um mundo diferente deste que a realidade do capital nos legou, marcado por cercas, grades, impedimentos, restrições, e uma brutal diferença social que separa o mundo entre dois extremos. Pode-se até não concordar com as ideias e os métodos que tais jovens defendem, que aliás não são consensuais entre eles. Mas não se trata de "vândalos" (no sentido pejorativo que mídia tenta dar), bandidos ou coisa do tipo.

Agora mesmo surgiu essa coisa de que os manifestantes não podem usar máscaras. Ora, a polícia usa máscara o tempo todo, esconde o rosto, e às vezes até o nome. E usa arma para se proteger. Usa gás de pimenta para despejar nos manifestantes quase sempre sem qualquer critério - lembro-me na nossa greve de 112 dias, em 2011, quando a tropa de choque despejou gás de pimenta em cima dos professores em algumas ocasiões, sem que tivéssemos feito nada que agredisse a qualquer outra pessoa, e até mesmo ao sagrado patrimônio privado de alguns. Como os jovens vão se proteger desses gases senão com máscaras embebidas em vinagre?

Mas, Minas tenta intimidar justamente estes jovens mais aguerridos, numa espécie de mensagem para a grande massa que foi para as ruas em junho. No Brasil Colônia, era comum aos agentes da Metrópole sacrificar de forma exemplar aos rebeldes de origem pobre. Eram torturados, enforcados e esquartejados para servir de exemplo aos outros pobres, sobretudo aos negros escravos. Minas tenta fazer com os jovens do 7 de Setembro algo parecido, um enforcamento moral, para servir de exemplo para outros manifestantes, que a imprensa chama de "a maioria ordeira". Nos cálculos do governo de Minas e de sua imprensa, manifestante bom é aquele que sai para a rua discretamente, sem atrapalhar o trânsito, de preferência gritando palavras de ordem contra o governo Dilma, apenas.

Na prática, estes atos do estado mineiro - e que vêm acontecendo em vários outros estados - representam a cassação de direitos democráticos duramente conquistados por manifestantes como estes que agora são apresentados como bandidos. Foi graças à luta, ao sangue e ao suor de muitos jovens e idosos idealistas, sonhadores, que as liberdades, as poucas que ainda restam, foram conquistadas. Foi graças à luta de milhares de sonhadores que todos os direitos que conhecemos e experimentamos foram arrancados dos governos e das elites - que tentam de todas as formas sequestrar dos de baixo.

Por isso, em nome dos direitos democráticos e humanos ameaçados, pelas liberdades de manifestação, de opinião e de imprensa atacadas, é preciso que tenhamos a coragem de nos manifestar, denunciando, por onde quer que andemos, essas práticas lesivas aos interesses da maioria dos de baixo. Excluindo-se a propaganda paga nos grandes (em poder econômico) meios de comunicação, que mostra Minas como paraíso, a realidade é de descaso e agressão aos movimentos sociais, às lutas de jovens e idosos idealistas, que são aqueles que resistem a aceitar aquilo que a maioria de nós se submete no dia a dia. Que vivam os manifestantes de rua, que Minas, outro país, com seus governos e sua mídia, jamais calará.

Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória!
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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Educadores acampam em frente ao palácio do governador. Parte da imprensa mineira finge que não vê. Até agora, pelo menos.



A "democracia" de Minas:



Educadores acampam em frente ao palácio do governador. Parte da imprensa mineira finge que não vê. Até agora, pelo menos.


O comandante Martinho, durante as manifestações de Junho. Ao seu lado, mais dois quadros do NDG: Sô Geraldo e Claudia Luiza. Martinho pernoitou esta madrugada no acampamento dos educadores de Minas na Casa do Governador. Esperava tomar o café da manhã com sua excelência. Contudo, este, arisco, saiu mais cedo, de helicóptero. Mas, uma turma permanece lá, até que ele retorne. No meio da semana, Martinho pretende levar nova turma, de Vespá, para passar o dia no acampamento. O blog será devidamente informado pelo comandante.

Atualização em 05/09/2013 - Em contato telefônico, o comandante João Martinho informa que nos dias 13 e 18 uma comitiva de educadores da subsede de Vespasiano e São José da Lapa se encarregará do acampamento na Casa do Governador, durante todo o dia e noite. Haverá inclusive um momento musical, com a possível participação de um artista e educador da cidade. O comandante pede a todos/as os/as educadores/as da região para reforçarem o acampamento. Os interessados podem entrar em contato com ele para viabilizar o transporte, se necessário.

URGENTE: Ação arbitrária da polícia de Minas contra os manifestantes do dia 07 de Setembro. O Blog foi informado que cerca de 15 pessoas, entre elas o filho do nosso comandante professor Martinho, foram e continuam presas na Ceresp da Gameleira. Segundo informações, a prisão ocorreu nas manifestações pacíficas do dia 07 de Setembro. É mais um ato arbitrário, que agride a democracia brasileira, cujas leis federais, teoricamente, asseguram aos cidadãos o direito de livre manifestação, de opinião e de ir e vir. Consta, segundo ainda os informes recebidos, que os manifestantes tiveram o cabelo raspado, o que constitui uma agressão moral e física, e inclusive agride aos elementos constituintes da cultura afrodescendente - no caso do filho do Martinho. Aguarda-se a manifestação da comissão dos Direitos Humanos, bem como de toda a sociedade contra mais este ataque aos direitos dos cidadãos brasileiros e mineiros.

Este vídeo aqui, publicado no portal do jornal O Tempo, nos dá uma noção da violência praticada pela tropa de choque contra os manifestantes. E neste link aqui é possível acessar a campanha pela liberdade do estudante de História Leonardo Martins, que teria sido detido e espancado. É a democracia da elite mineira e brasileira, branca, racista, preconceituosa e sempre servil aos piores interesses.

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Acordei ontem com diarreia. Sem apetite algum. Mas como estava sem febre, descartei a dengue. O que seria doloroso, pois seria a terceira, em poucos anos. A diarreia hoje prossegue menos intensa. E eu, à base de chazinho, soro caseiro e maçã, vou levando o dia, em casa, pois ninguém é de ferro para ir trabalhar nessas ocasiões, né? Mas, o que tem a ver a minha diarreia com o título do post? Nada. Ou será que tem? Bom, continuemos.

Na sexta-feira, bem de noitão, já no final do dia 30, o comandante Martinho bate na porta do meu bunker. Foi ele quem trouxe a informação do acampamento de um grupo de educadores de Minas na porta do Palácio das Mangabeiras, sede oficial do governador de Minas. Ele esteve lá, de passagem, e disse que passará todos os dias por lá. Ele e Sô Geraldo, outro valente da nossa greve de 112 dias. E disse mais: está recrutando colegas educadores que se disponham a acompanhá-lo nas suas idas e vindas - ou dormidas - no acampamento. Infelizmente, dada à minha condição de trabalhador em tempo integral, inclusive fora da rede estadual, não poderei participar desta iniciativa louvável, que tem o meu apoio. Disse-lhe que o blog está à disposição para divulgar o que ele enviar - ele ou qualquer outro ilustre visitante deste espaço.

Mas, o que me chamou a atenção neste final de semana, enquanto descurtia minha diarreia, que na verdade começou no sábado, foi a omissão - mais uma, aliás - de parcela da mídia mineira, quase toda ela bancada com recursos públicos do governo de Minas, sempre generoso com a imprensa que lhe devota total subserviência. Pelo que andei lendo nos portais, somente o jornal Hoje em Dia teve coragem de publicar uma matéria, inclusive reproduziu um vídeo oficial do sind-UTE. Quando houve a ocupação da Câmara de Vereadores de BH, ou mesmo da Prefeitura de BH, houve grande divulgação na mídia mineira. Agora, quando se trata do governo do estado de Minas, o buraco é mais embaixo. Se o acampamento durar um tempo maior, pode até ser, com toda a má vontade do mundo, que a imprensa mineira descubra que a morada do governador está ocupada por dezenas de educadores. E o que pedem estes educadores?

Em primeiro lugar, o cumprimento de leis federais. Uma delas, o pagamento do piso salarial nacional, que em Minas foi burlado, nas barbas de um Ministério Público omisso, de um legislativo estadual mais omisso ainda, e de uma imprensa igualmente omissa. Sou eu quem estou com diarreia, mas quem despeja excremento pelas ruas e esquinas do país e de Minas são eles. Ou o que seria a programação dessa mídia eletrônica senão algo similar a uma diarreia? - mental, inclusive. Em segundo lugar, o cumprimento da lei no que tange aos 25% da receita, que não são aplicados na Educação. Com as bençãos de um Tribunal de Contas cujo conselho é político, mais do que técnico. Traduzindo: seus membros, com exceções, são indicados quase sempre pelos bons serviços prestados aos governantes de plantão. Se estiver errado, corrijam-me.

E agora, passados os primeiros ventos das rebeliões de junho, o governo de Minas já pode se dar ao luxo de voltar a desprezar o sindicato, como sempre fizera. Tudo bem que o sindicato tem seus defeitos. Que sua direção é monopolizada pelo mesmo grupo há 30 anos, e que, em função de sua incapacidade de ouvir as bases, dialogar com as bases, e abrir espaços para a diferença, acabou contribuindo com sucessivas derrotas da categoria. Mas, quando toma a iniciativa de acampar na frente (ou seria no fundo?) da casa oficial do governador, o sindicato pelo menos dá um passo para romper com o imobilismo. E o governo de Minas precisa urgentemente dar outro passo, nessa dança, chamando o sindicato para negociar os justíssimos pleitos da categoria. Quais são eles? Descongelamento e devolução da carreira roubada, pagamento do piso salarial, e, se possível, devolução das gratificações roubadas desde 2003, quando o faraó, então governador, e hoje senador pelo Rio de Janeiro, assumiu o governo do estado.

A Educação pública, ensino básico, em Minas e no Brasil, está indo para o buraco, tamanho o descaso de governantes dos diversos partidos, sem exceção. Mas, ao contrário da Saúde, em cuja área se pode contratar médicos de outros países - que viva a medicina cubana, que dá de dez a zero no Brasil e no mundo! -, na Educação, o buraco é literalmente mais embaixo. Quem, de outro país, vai se dispor a trabalhar aqui ganhando R$ 1.000,00 por mês, sem direito a qualquer outra ajuda - transporte, moradia, alimentação, etc.? Acho que nem a generosa alma do povo cubano, herdeiro da revolução de 1959, daria conta de tal missão. Missão. Sim, sempre disseram que lecionar no Brasil era coisa de missionário, obra generosa e voluntária. Pena que o aluguel, o transporte, a alimentação, o vestuário, e outras tantas despesas diárias não se curvam às práticas benevolentes. A lei do Deus Mercado dita as normas, criando um descompasso entre o minguado salário dos professores e demais educadores e a dura realidade ditada pelas normas do mercado - sujeito oculto, inculto, que se torna onipresente e onipotente. Reparem como os economistas-comentaristas se referem ao "mercado", com a mesma reverência que um religioso presta aos seus deuses.

Enquanto isso, eu aqui com a minha diarreia, talvez por comer fora de casa todos os dias, comida de boteco e outras mais. E os educadores, alguns poucos, acampados em frente a casa do governador, enquanto a mídia de Minas finge que não vê. E o restante da humanidade, na expectativa de mais uma agressão imperialista dos EUA contra a Síria, naquela guerra insana, como todas as outras, sonha, quando sonha, com um amanhã livre das algemas, dos podres poderes que conspiram o tempo todo contra a humanidade.

Um forte abraço a todos e força na luta! Até a nossa vitória!

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